Tales Faria
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), se empenhou o quanto podia para fazer de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) o novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Seu interesse em ver o ex-presidente do Senado no STF era tão grande que ele mandou o seguinte recado ao Palácio do Planalto: "Não. Não me julgarei premiado se, para ganhar cargos no governo, tiver que desistir do Rodrigo."
Pois bem. Ele ganhou muito mais do que o direito de nomear alguns carguinhos no Poder Executivo. Venceu, em favor de seu estado, o Amapá, uma queda de braço de cinco anos contra a área ambiental do governo, incluindo a poderosa ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede Sustentabilidade).
Graças à intervenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Petrobras obteve do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) licença para a perfuração do primeiro poço em águas profundas na bacia da Foz do Amazonas, a 175 km da costa do Amapá.
Isso renderá para seu grupo no Amapá grandes frutos nas eleições do ano que vem. Alcolumbre poderá dizer - sem ser contestado - que foi ele quem arrancou do governo essa autorização.
Aliás, já começou a fazer isso em suas primeiras declarações à imprensa nesta segunda-feira (20), logo após sair a decisão do Ibama. O presidente do Senado disse que a autorização era esperada "por mais de uma década pelos amapaenses" e concluiu:
"É um dia de celebração, é um dia de felicidade, é um dia de felicidade pessoal e, por que não dizer, institucional. De uma luta que nós travamos há muito tempo e que nós acreditávamos que era possível que um dia acontecesse. Pois bem, para felicidade do Brasil e dos amapaenses, esse dia chegou. Parabéns a todos que lutaram incansavelmente para que esse dia acontecesse - e ele aconteceu."
O poço, batizado de Morpho, será a primeira tentativa para confirmar se os reservatórios de petróleo na chamada Margem Equatorial do Brasil são de capacidade semelhante aos descobertos pela americana ExxonMobil na Guiana - um dos países hoje com maior taxa de crescimento na produção.
A expectativa é de que se constitua em uma nova fronteira exploratória no país, talvez maior até do que a capacidade do pré-sal no litoral sudeste, cujo ritmo de produção deve começar a cair no início da próxima década.
Não por coincidência, a decisão veio próxima de outra decisão do presidente Lula, que estava sendo alvo de forte pressão de Alcolumbre: a indicação do novo ministro do Supremo Tribunal Federal.
Depois de receber um presentão do tamanho da abertura do poço na Foz do Amazonas, Alcolumbre agora não poderá reclamar do fato de Rodrigo Pacheco ter sido preterido.
Para Pacheco, os planos do governo agora são convencer o ex-presidente do Senado a preparar um palanque para Lula na campanha eleitoral de Minas Gerais em 2026, seja como candidato a governador ou ao Senado.
Minas é decisiva para Lula como candidato à reeleição. Ninguém, desde o fim da ditadura militar, foi eleito presidente da República sem ter vencido junto ao eleitorado mineiro.
A autorização para exploração de petróleo na Foz do Amazonas pode trazer vários problemas políticos com os ambientalistas às vésperas da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025), que ocorrerá na Amazônia em novembro.
Mas traz outros dividendos para o presidente Lula. O primeiro deles é a manutenção do apoio de Alcolumbre ao governo. O presidente do Senado é um dos principais caciques do centrão, que tem vários líderes dispostos a romper com o Palácio do Planalto. Poderá blindar o Planalto contra investidas desses líderes.
O outro dividendo é colocar na ordem do dia a montagem do palanque de Lula em Minas Gerais.
E, por fim, que, apesar das resistências dos ambientalistas, a ideia de uma nova fronteira petrolífera alimenta o bom humor de investidores no país, com reflexos na economia em ano eleitoral.
Vero Notícias
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