Boulos, segundo seus interlocutores, entende que seu perfil é mais compatível com o Executivo e com o trabalho construído diretamente nas bases
Beto Bombig
A nomeação de Guilherme Boulos (PSol-SP) como ministro da Secretaria Geral da Presidência é entendida por ele como uma grande oportunidade de se reposicionar na chamada "política institucional", ou seja, para além dos movimentos sociais. No horizonte dessa estratégia, está o pós-Lula, o período que, na visão dos aliados do atual presidente, líder nas pesquisas de intenção de voto, terá início a partir de 2030.
Boulos avisou a direção do PSol paulista que, se for desejo de Lula, permanecerá no cargo até o final do atual mandato do presidente. Isso significa que ele não se desincompatibilizará para concorrer a um novo mandato no Legislativo federal. A decisão não agradou à direção de seu partido, que espera ter nele, novamente, um puxador de votos em 2026. Boulos foi o mais votado em São Paulo em 2022, com um milhão de votos.
Em conversa com seu grupo na legenda, o deputado explicou sua decisão. Boulos, segundo seus interlocutores, estava desconfortável na Câmara dos Deputados por entender que seu perfil é mais compatível com o Executivo e com o trabalho construído diretamente nas bases. Lula, inclusive, teria se sensibilizado com esse argumento porque teve passagem discreta pelo Legislativo, quando se elegeu em 1986.
A derrota de Boulos para Ricardo Nunes (MDB) no segundo turno da eleição para prefeito de São Paulo, no ano passado, mesmo com a participação direta de Lula na campanha, também deixou o deputado abalado e motivou essa revisão de rumos na carreira.
Na disputa municipal, o deputado não conseguiu afastar a imagem de "invasor" e "radical" que o acompanha desde os tempos em que esteve à frente do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), algo que a gestão executiva em um ministério pode lhe proporcionar em termos de imagem.
Nesse sentido, o convite de Lula, feito quase dois meses atrás, foi prontamente aceito porque o deputado entende que a pasta lhe dará essa condição de conectar a política institucional, visto que o ministério é responsável pela articulação com os movimentos sociais, justamente onde está o marco inicial de sua história, nascida como líder do MTST.
Ainda que a decisão de aceitar o ministério tenha contrariado o PSol, o partido entende que Boulos, em caso de reeleição de Lula e, se ele fizer um bom mandato na pasta, o futuro ministro se fortalecerá como alternativa da centro-esquerda para 2030.logo-jota
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