Natália Portinari
Em reunião com o venezuelano Nicolás Maduro em novembro, o empresário Joesley Batista, dono da J&F, avisou que, para evitar uma guerra, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quer fechar um acordo que envolva três mercados: petróleo, ouro e terras raras.
A renúncia de Maduro não está sob negociação. É uma demanda do governo norte-americano. A intervenção militar, porém, pode ser evitada, segundo o recado repassado a Maduro pelo empresário brasileiro.
O UOL ouviu fontes próximas ao empresário, sob condição de anonimato, que confirmaram os termos da conversa com Maduro.
Hoje, empresas de Rússia, China, Irã e Turquia têm negócios lucrativos no processo de extração e refino de petróleo na Venezuela. Trump só aceitaria um acordo que envolvesse a redistribuição desse mercado para empresas aliadas.
Joesley viajou para a Venezuela em 23 de novembro, onde, por iniciativa própria, atuou como um emissário informal de Trump. Antes, passou dois dias em Washington, entre 12 e 14 de novembro.
Naquele dia, 14 de novembro, Trump se reuniu com os comandantes militares para avaliar um possível ataque à Venezuela, e Joesley voltou ao Brasil com uma missão diplomática paralela, que também foi informada ao governo brasileiro.
Maduro é favorável a discutir a reabertura do mercado venezuelano a empresas americanas, mas não tem demonstrado abertura à ideia de renunciar. O ditador, porém, sofre pressão crescente por uma possível invasão dos Estados Unidos.
Interesses da J&F
A conversa tem importância estratégica para Joesley, já que interessa a ele explorar petróleo na Venezuela através da Fluxus, braço de óleo e gás da J&F.Essa possibilidade estaria mais próxima caso o desejo de Trump se concretize e empresas chinesas e russas percam contratos na Venezuela, abrindo o mercado para novos players, como a própria Fluxus.
Joesley também quer usar a Âmbar Energia para importar energia para o Brasil, já autorizado pelo governo brasileiro, e exportar carne e frango para a Venezuela, entre outras possibilidades de negócios.
Apesar disso, na conversa entre Joesley e Maduro, investimentos específicos ficaram fora da pauta. A prioridade foi tentar comunicar ao ditador venezuelano quais as prioridades de Trump em um possível acordo.
Negociações travadas
Na última quinta-feira, a Casa Branca orientou os cidadãos americanos a deixar a Venezuela "imediatamente" e retornar aos Estados Unidos, e Trump disse que os ataques terrestres começariam "muito em breve".A possibilidade de um acordo parece distante. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, rejeita eventuais negociações nesse momento, ao contrário de Trump, que prefere uma saída que não envolva invadir o país.
A escolha de Joesley como interlocutor informal vem nesse contexto. É um emissário de Trump, não necessariamente do governo americano.
Há cerca de dois meses, Maduro acenou aos Estados Unidos oferecendo dar preferência a negócios americanos nos contratos para exploração de petróleo, direcionar para os Estados Unidos as exportações que hoje vão para a China e cortar negócios com empresas da China, do Irã e da Rússia.
É exatamente o que quer Trump, mas com a exigência de que Maduro renuncie e abra caminho para a eleição de alguém alinhado ao governo americano, que possa conduzir a abertura do mercado às empresas do país.
Joesley atua nesse meio de campo como um empresário brasileiro interessado no mercado venezuelano, mas também como detentor de negócios nos Estados Unidos.
A J&F é dona da Pilgrim's, uma das maiores produtoras de frango do país. A empresa fez a maior doação para a posse de Trump, de US$ 5 milhões.
Uol
https://noticias.uol.com.br/colunas/natalia-portinari/2025/12/06/joesley-levou-recado-de-trump-a-maduro-sobre-possivel-acordo-com-eua.htm





