Boulos, Zambelli e Eduardo: juntos, os três parlamentares receberam mais de 2,68 milhões de votos na disputa pela Câmara por São Paulo na eleição passada | Imagem: Foto: Maria Isabel Oliveira/ Agência O Globo - 19/10/2024
Esquerda e direita buscam novos puxadores de voto em SP

Esquerda e direita buscam novos puxadores de voto em SP

Campeões nas urnas em 2022, Boulos, Zambelli e Eduardo desfalcam legendas


Por Cristiane Agostine e Joelmir Tavares - De São Paulo

A menos de um ano das eleições, partidos de esquerda e de direita buscam novos puxadores de voto em São Paulo para disputar a Câmara. Os três deputados federais mais bem votados do Estado em 2022 - Guilherme Boulos (Psol), Carla Zambelli (PL) e Eduardo Bolsonaro (PL) - devem ficar fora da corrida por um novo mandato em 2026 e desfalcar suas legendas. Juntos, os três parlamentares receberam 2,68 milhões de votos.

Com a nomeação de Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência e a perspectiva de o novo ministro não concorrer em 2026, o Psol movimenta-se para não perder votos - e cadeiras na Câmara - para o PT. Boulos foi o deputado mais votado em 2022 na disputa de São Paulo, com mais de 1 milhão de votos, e o segundo mais votado do país. O novo integrante do governo deve ficar até o fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar da pressão do partido para concorrer ao Senado ou à Câmara.

Na terça-feira (21), os presidentes nacionais do Psol, Paula Coradi, e do PT, Edinho Silva, reuniram-se em Brasília para começar a traçar uma estratégia eleitoral conjunta para o próximo ano.

Sem Boulos, a principal aposta do Psol em São Paulo é a deputada Erika Hilton, que ganhou projeção com a defesa do fim da jornada de trabalho de 6x1. Em 2022, Erika recebeu 256,9 mil votos e foi a nona mais votada no Estado. "Em 2026 ela deve ampliar e muito a votação", diz a presidente do Psol. "É capaz de ter o mesmo, [chegar] perto ou passar o próprio Boulos, porque ela é muito grande", afirma Coradi. No entanto, o contexto é diferente: em 2022, Boulos tinha saído de uma recente disputa pela Prefeitura de São Paulo, dois anos antes. Apesar de ter perdido para o então prefeito Bruno Covas (PSDB), o candidato do Psol teve bom desempenho eleitoral e dobrou a votação do 1º para o 2º turno, recebendo 2,1 milhões de votos.

A presidente do partido diz que a meta para 2026 é manter ou aumentar a bancada de seis deputados eleitos pela federação Psol-Rede. Além de reeleger a atual bancada, a federação aposta no ex-presidente da sigla Juliano Medeiros e nos deputados estaduais Marina Helou (Rede) e Guilherme Cortez (Psol).

Boulos pretende manter-se influente na Câmara e articula a candidatura de militantes do MTST, como Natalia Szermeta, sua esposa, e Guilherme Simões, secretário nacional de periferias.

A federação poderá perder a candidatura da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, caso ela deixe o Rede e filia-se ao PSB.

De olho no espaço deixado por Psol e Rede, o PT aposta em quadros orgânicos da sigla, como o ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente do partido Rui Falcão e ministros como Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Luiz Marinho (Trabalho), e Alexandre Padilha (Saúde).

Principal aposta do Psol em São Paulo é a deputada Erika Hilton; do PL, Renato Bolsonaro
No PSB, Tabata Amaral continuará sendo a puxadora de voto. Em 2022, foi a sexta mais bem votada, com 337 mil votos. O ministro Márcio França (Empreendedorismo) poderá reforçar a busca por espaço na Câmara, se não viabilizar a candidatura ao governo ou ao Senado.

Na direita, a busca por puxadores de votos se intensificou por causa do vácuo na lista de "campeões de voto" em 2022. A principal preocupação do PL é substituir Eduardo Bolsonaro, a princípio cotado para disputar o Senado. Caso o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro não seja novamente candidato à Câmara, a estratégia do partido é encontrar nomes capazes de ter votação expressiva.

O PL também precisa compensar a ausência de Carla Zambelli, que ficou inelegível após ser condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e está presa na Itália. Além disso, dois deputados bem votados pela legenda mudaram de sigla: Ricardo Salles, que foi para o Novo, e Guilherme Derrite, que migrou para o PP.

Um dos nomes vistos pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, como possível puxador é Renato Bolsonaro, irmão do ex-presidente. Ex-vereador em Praia Grande (SP), Renato foi derrotado em 2024 na eleição para a Prefeitura de Registro (SP), mas a avaliação é que o apoio do irmão poderá turbinar seu desempenho para deputado. Não se sabe ao certo, no entanto, como o ex-presidente poderá participar da campanha, após a condenação no STF por tentativa de golpe de Estado.

"O que o Valdemar me falou foi que o partido perdeu algumas lideranças fortes, que tiveram muito voto, e está se organizando para ver se consegue reunir pré-candidatos para tentar buscar essa diferença ou não perder muito", diz Renato, que está percorrendo regiões do Estado em pré-campanha para se apresentar como alguém "de confiança" do ex-presidente e fiel aos "princípios e ideais da família". O irmão de Bolsonaro, segundo o presidente do PL, deve concorrer com o número de urna 2222, que foi de Eduardo.

Outros nomes cogitados no PL são os do deputado estadual Gil Diniz, que é próximo de Eduardo e espera contar com o apoio dele na eventual campanha, e dos vereadores da capital Lucas Pavanato, que teve a maior votação para a Câmara Municipal em 2024, e Zoe Martínez. Todos respondem que ainda não há decisão formalizada e que a definição será feita com o partido e sob as orientações de Bolsonaro.

A avaliação no bolsonarismo é que será preciso combinar esforços para manter bancadas na Câmara, o que interessa principalmente aos partidos, e para ampliar a presença no Senado, uma das prioridades para 2026. Um integrante do segmento afirma que a estratégia é escolher nomes com "perfil midiático", com diálogo com bolsonaristas e que alcance outras parcelas antipetistas.

Com o cenário tumultuado, o PL chegou a aventar a possibilidade de fazer o deputado Nikolas Ferreira (MG) trocar o domicílio eleitoral de Minas Gerais para São Paulo. A ideia, entretanto, enfrentou resistências nas fileiras locais do partido e não prosperou. Nikolas reiterou ter compromisso com Minas e negou disposição de avançar em tratativas.

Valor
https://valor.globo.com/politica/noticia/2025/10/22/esquerda-e-direita-buscam-novos-puxadores-de-voto-em-sp.ghtml