Relatório aponta que Master foi único investidor nessas companhias e aponta suspeita de fraudes; Master diz que investimentos foram integralmente quitados, mas não comenta vínculo com irmã
Por Aguirre Talento
BRASÍLIA - A investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre o Banco Master detectou suspeitas em investimentos feitos em empresas que possuem vínculos com a irmã de Daniel Vorcaro, dono do banco.
Como revelou o Estadão, a CVM identificou indícios de crimes em aportes de R$ 2,1 bilhões do Banco Master em um conjunto de dez empresas cujas notas comerciais foram emitidas pela Laqus Depositária de Valores Mobiliários e tiveram o Master como único investidor.
Desses valores, uma fatia de R$ 1,2 bilhão foi aportada em empresas que possuíam vínculos com Natália Vorcaro, irmã do dono do Master, de acordo com o parecer técnico.
Procurada, Natália não retornou aos contatos. O Master, em nota, disse que os investimentos citados já foram "integralmente quitados", mas não comentou os vínculos com a irmã de Vorcaro.
As suspeitas também foram traçadas a partir da Clínica Mais Médicos S.A., que recebeu investimentos de R$ 361 milhões do banco Master, mas funciona em uma estrutura "rudimentar" em Contagem (MG).

A CVM descobriu que o mesmo escritório de contabilidade da clínica também presta serviços para a empresa Del Participações, na qual Natália Vorcaro aparece como administradora.
Além disso, o relatório apontou vínculos de outro sócio da empresa Del Participações com companhias do ramo de saúde que têm relações com a Clínica Mais Médicos S.A. e também receberam aportes financeiros do Banco Master através da Laqus.
"Essas empresas, juntas, foram responsáveis pela emissão de um montante total de R$ 1.269.315.684,00 de notas comerciais, 100% adquiridas pelo Banco Master", diz a CVM.
Por causa desses vínculos, a investigação aponta uma suspeita de que as operações foram criadas de maneira fraudulenta para que o dinheiro retornasse ao próprio grupo familiar de Daniel Vorcaro, após ter inflado artificialmente o patrimônio líquido do banco.
"A identificação dos vínculos ora relatados, de natureza societária, operacional e pessoal, especialmente quando tais conexões envolvem, direta ou indiretamente, o investidor que adquire o valor mobiliário emitido, constitui indicativo relevante de que a operação pode ter sido estruturada com aparência de legitimidade, mas com finalidade econômica real distinta daquela formalmente declarada", diz o parecer técnico da CVM.
Procurada, a Laqus afirmou que cumpriu os requisitos legais nessas transações e disse que não é a responsável direta pela emissão das notas comerciais, apenas a depositária delas. Afirmou ainda que não tem responsabilidade de identificar os cotistas nem as relações entre as empresas.
"Temos por obrigação regulatória validar se as transações cursadas em nosso ambiente de depósito atendem aos requisitos legais e infralegais de uma transação legítima de mercado de capitais, que foi o que realizamos para as transações citadas", disse.
Veja a íntegra da nota do Banco Master
"O Banco Master esclarece que não possui relação com a LAQUS Depositária de Valores Mobiliários S.A. e não mantém atualmente operações de crédito com as empresas mencionadas na reportagem.
Os créditos citados, por meio do fundo mencionado, já foram integralmente quitados, não havendo qualquer exposição.
O Banco manifesta surpresa com as alegações, pois nunca foi formalmente solicitado pela CVM a prestar esclarecimentos, e considera inadmissível a abertura de procedimentos com vazamento seletivo de informações à imprensa. O Banco Master adotará todas as medidas cabíveis nas esferas administrativa, civil e criminal para proteger sua imagem e assegurar o devido processo legal."
Estadão
https://www.estadao.com.br/economia/master-fez-investimentos-12-bi-empresas-vinculadas-irma-vorcaro