CACIFE - Tebet: votação dela em 2022 foi maior em São Paulo do que em Mato Grosso do Sul, seu estado natal (Charles Damasceno/MPO//) |
Multiplicação de candidatos ao Senado em São Paulo acirra disputa à esquerda e à direita

Multiplicação de candidatos ao Senado em São Paulo acirra disputa à esquerda e à direita

A possível entrada de Simone Tebet na corrida consolida de vez um quadro com postulantes demais para apenas duas vagas

Por Laísa Dall'Agnol

Há pouco mais de um mês, em 9 de julho, o presidente americano Donald Trump anunciou uma bomba para o Brasil: o tarifaço de até 50% sobre uma série de produtos brasileiros. No mesmo dia, o Paraná Pesquisas divulgou uma pesquisa sobre a corrida ao Senado em São Paulo que indicava um cenário claro: os favoritos às duas vagas em 2026 eram o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), pela direita, e um dos possíveis nomes governistas - o ministro Fernando Haddad (PT) ou o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). De lá para cá, no entanto, muita coisa mudou no xadrez eleitoral paulista. Com Eduardo nos Estados Unidos insuflando medidas contra autoridades brasileiras e investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por essa atuação, está cada dia mais improvável não só o seu retorno em breve ao país - porque corre o risco de ser preso - como também a possibilidade de se manter na disputa ao Senado. Sem o Zero Três na eleição, abriu-se enorme espaço para outros nomes à direita, mas nenhum deles chega com as mesmas condições de favoritismo. O outro lado sofre com a mesma indefinição, pois Alckmin e Haddad se mantêm como hipóteses.

CACIQUE - Baleia Rossi: presidente do MDB é aliado de Tarcísio e também estuda entrar na concorrência
CACIQUE - Baleia Rossi: presidente do MDB é aliado de Tarcísio e também estuda entrar na concorrência (Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

Nos últimos dias, no campo mais à esquerda, uma nova possibilidade vem ganhando corpo nos bastidores: a candidatura da ministra Simone Tebet. Entusiasta da frente ampla que garantiu a vitória a Lula em 2022, Tebet foi importante no segundo turno ao apoiar de forma incisiva o petista. Terceira colocada no primeiro turno da eleição presidencial, com 4,16% dos votos válidos, ela teve em São Paulo uma votação maior (6,34%), superior até ao desempenho em seu reduto eleitoral, Mato Grosso do Sul, onde obteve 5,29%. Ela foi convidada pelo Prerrogativas, grupo de advogados aliados a Lula que patrocinou a aliança com Alckmin em 2022, para um jantar com juristas e empresários neste mês. O convite foi aceito e a data precisa ser marcada, mas esse seria um primeiro passo para dar tração à ideia. "Vemos com entusiasmo a possibilidade da candidatura da ministra, que é um quadro impecável e viável, além de ter ótima relação com o empresariado, a indústria e o agro e ter se mostrado leal a Lula. Mas caberá a ela, ao presidente e ao PT decidir", diz Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do grupo.

CONVERSA - Com Tabata Amaral: mudança de partido não está descartadaCONVERSA - Com Tabata Amaral: mudança de partido não está descartada (Washington Costa/MPO//)

Depois de fazer um bom papel na última campanha presidencial, a ida ao governo Lula ofuscou o brilho crescente de Tebet e decepcionou a maior parte do eleitorado de centro-direita que a apoiou em 2022. Nos últimos tempos, ela tem tentado reagir. A ministra vem participando de anúncios importantes do governo e, dentro da percepção de que será difícil recuperar a fatia de apoios mais conservadores, parece disposta a assumir de vez o tom do governo petista, aliando o discurso de combate às desigualdades ao de respeito ao empresariado e aos parceiros comerciais do país, sobretudo na esteira do tarifaço americano. A sul-­mato-­grossense também passou a defender Lula com maior veemência e a condenar arroubos golpistas do bolsonarismo. Em Rondônia, no início do mês, ao lado do petista, Tebet afirmou que o país passa por um "retrocesso". "Não se enganem: o 8 de Janeiro não terminou. Tentaram dar um golpe e invadir o Congresso de fora para dentro e agora tentaram dar um golpe na democracia de dentro para fora", afirmou, citando o motim bolsonarista na Câmara e no Senado. Tebet disse ainda que "nem sabia se deveria ou não ser candidata a alguma coisa", mas que estava energizada com a missão de defender a democracia e eleger não apenas um Congresso forte, mas trabalhar pela reeleição de Lula no Planalto.

Há quase três décadas na vida pública, Tebet construiu sua trajetória no MDB, única legenda a que foi filiada. Em seu berço eleitoral, no entanto, o espaço para uma candidatura ao Senado é cada vez menor. Predominantemente bolsonarista, o estado teria pouca receptividade a uma candidata alinhada a Lula e ao PT. Simultaneamente, outros nomes de peso já se colocam na disputa, o que dificultaria ainda mais seu pleito, entre eles o ex-governador Reinaldo Azambuja, prestes a ir para o PL de Jair Bolsonaro. Em São Paulo, caso Tebet realmente tente concorrer, o caminho parece mais promissor, mas não livre de obstáculos. O MDB deve apoiar a reeleição de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao governo. Além disso, o próprio presidente da sigla, Baleia Rossi, é cotado para disputar uma das vagas, e aparece razoavelmente bem nas pesquisas (11%). Soma-se a isso o fato de um dos mandachuvas do diretório paulista ser o prefeito da capital, Ricardo Nunes. Tebet não apenas não o apoiou na campanha à reeleição em 2024, como, ao fincar apoio a Lula, vai de encontro ao prefeito, cada vez mais alinhado a Bolsonaro.

FIRME - O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite: sem o Zero Três, ele é o principal nome da direita
FIRME - O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite: sem o Zero Três, ele é o principal nome da direita (Roberto Casimiro/Fotoarena/Agência O Globo/.)

Tendo em conta as dificuldades dentro do MDB, uma hipótese é levar Tebet para o PSB do ministro Márcio França (Empreendedorismo) e Alckmin. Na última semana, a ministra esteve com a deputada Tabata Amaral (PSB-SP), um dos principais nomes da sigla no estado. "Em tempos desafiadores como os atuais, unir forças é essencial para transformar o Brasil", publicou Tebet após o encontro, assinalando que, "quando há compromisso com o país, as ideias se somam, os projetos ganham força e o Brasil avança". A entrada de Tebet na disputa pelo lado governista seria um trunfo para Lula, que ainda não tem nomes competitivos dispostos a ir para a disputa eleitoral. Haddad tem mostrado resistência, enquanto Alckmin gostaria de seguir como companheiro de chapa de Lula. O único pronto para o embate em 2026 é França, ex-governador do estado e um dos caciques do PSB.

TIRO NO PÉ - Eduardo Bolsonaro, nos EUA: atuação contra o Brasil e STF minaram candidatura
TIRO NO PÉ - Eduardo Bolsonaro, nos EUA: atuação contra o Brasil e STF minaram candidatura (//Reprodução)

No campo da direita, a atual situação política de Eduardo Bolsonaro mudou - e muito - a perspectiva eleitoral. Um candidato certo ao Senado continua sendo o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, que trocou o PL pelo PP exatamente para viabilizar seu plano - ele aparece com boas chances de brigar por uma das vagas. Outro que estará no páreo é o ex-ministro Ricardo Salles, que fez movimento parecido: deixou o PL (por onde foi o quarto deputado mais votado em 2022) para ir para o Novo - ele também aparece competitivo. "Só não serei candidato ao Senado se Tarcísio decidir disputar a Presidência. Aí tentarei o governo", diz Salles. Outro nome que é cogitado para o posto é o do ex-governador Rodrigo Garcia (PSD), que pode sair candidato com as bênçãos de Tarcísio e do cacique de seu partido, Gilberto Kassab.

Crédito: Instagram @ricardosallesmma - - - https://www.instagram.com/ricardosallesmma/reel/DKC_K2IxLZH/?hl=pt
PLANOS - Salles: ele quer o Senado, mas pode tentar o governo estadual se Tarcísio ficar fora do páreo (Reprodução/Instagram)

A corrida não chama a atenção apenas pelo nível elevado de concorrência, com indefinições importantes nos dois polos do espectro político. Para além do esforço na tentativa de formar maioria na casa legislativa em 2026, um dos objetivos prioritários para esquerda e direita nas próximas eleições, há uma preocupação em fortalecer a campanha no estado para a disputa pelo Planalto. Lula precisa reforçar o palanque, pois a rejeição a seu governo vem crescendo em São Paulo e poderá ter como adversário na tentativa à reeleição justamente o governador do estado. Tarcísio de Freitas, por sua vez, caso realmente opte por enfrentar o presidente, não pode dispensar apoios fortes, visto que não será tarefa fácil derrotar o petista. Nesse contexto, a disputa ao Senado em São Paulo, sempre ofuscada pela eleição presidencial, vem ganhando protagonismo inédito por sua importância e pelo calibre dos atores envolvidos.

Veja
https://veja.abril.com.br/politica/multiplicacao-de-candidatos-ao-senado-em-sao-paulo-acirra-disputa-a-esquerda-e-a-direita/