Homem aponta para painel na B3, a Bolsa de Valores brasileira - Paulo Whitaker/REUTERS |
Eleições batem à porta de uma Bolsa esticada

Eleições batem à porta de uma Bolsa esticada

  • Ibovespa subiu 30% em 2025, mas volatilidade eleitoral já começa a afetar negociações
  • Tradicionalmente, índice cai seis meses antes de eleições presidenciais e sobe seis meses depois da posse

Quem, no início deste ano, abraçou a tese de que em alguma hora os juros teriam que ceder e manteve sua posição na Bolsa já colheu bons frutos. Uma alta de mais de 30% do Ibovespa em 2025 mostra que muitos setores já veem o futuro com bons olhos, em relação à lucratividade.

O índice, principal termômetro do nosso mercado de capitais, conseguiu a proeza de tocar impressionantes 164 mil pontos, depois de ter passado 2024 praticamente dentro de uma "caixa", indo e voltando de 120 mil a 135 mil pontos. As duas últimas semanas, no entanto, deram pistas do que esperar no próximo ano: volatilidade eleitoral.

Primeiro, quando Flávio Bolsonaro -filho 01 do ex-presidente, hoje presidiário, Jair Bolsonaro- anunciou ter sido escolhido pelo pai para se candidatar à Presidência em 2026, a Bolsa derreteu. Foram 4,3% de queda no dia. Depois, o índice voltou a cair com a divulgação de uma pesquisa que mostrou o atual presidente Lula (que também já esteve preso, mas teve o processo anulado) muito à frente dos outros candidatos na corrida eleitoral. O Ibovespa tombou coisa de 2% durante o pregão.

Isso significa que "o mercado" não quer Lula nem Bolsonaro(s)? Que os investidores estão fechados com outro candidato (como Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo)? Alguns gestores e analistas dizem que sim, mas o histórico (ou "track record", como se diz na Faria Lima) sugere algo mais simples -e talvez mais duro de aceitar.

Veja bem: valorização de ação só vira dinheiro para quem vende. E, depois de uma boa alta, é natural que investidores comecem a realizar lucros no primeiro sinal de mudança de tendência. Muitos estão com antenas ligadas para apertar o botão de venda assim que enxergarem o fim da alta com clareza.

Fato 2: Tradicionalmente o Ibovespa cai seis meses antes de eleições presidenciais no Brasil e sobe seis meses depois da posse.

Fiz um levantamento analisando as últimas sete eleições, desde a reeleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1998. Em quatro delas, o índice caiu nos seis meses anteriores ao pleito. A média das quedas é de 9,6%. Ainda que tiremos os outliers (como a queda de 48% antes da reeleição de FHC), a variação é negativa.

A boa notícia é que seis meses depois da posse, tradicionalmente, o Ibovespa sobe. Nos mesmos sete casos, o índice só caiu uma vez no primeiro semestre de um mandato presidencial, na primeira eleição de Dilma Rousseff. A média das altas é de significativos 17%. Novamente, excluindo da conta os outliers, o sentido é o mesmo.

Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcos-de-vasconcellos/2025/12/eleicoes-batem-a-porta-de-uma-bolsa-esticada.shtml