Corte de árvores no terreno da Tenda na Avenida Guilherme Dumont Villares, na zona oeste de São Paulo, nesta quarta-feira, 26 de novembro de 2025. Foto: Tiago Queiroz/Estadão |
Construtora começa corte de 384 árvores para construção de prédio em SP

Construtora começa corte de 384 árvores para construção de prédio em SP

Construtora Tenda terá de plantar 221 mudas nativas e pagar cerca de R$ 2,5 milhões ao fundo municipal de ambiente. Empreiteira diz que obra foi devidamente aprovada pela gestão municipal, que cita 'análise técnica rigorosa'


Por Malu Mões

Tenda começa a derrubar 384 árvores na zona oeste de SP para construção de prédio

A construtora Tenda iniciou nesta quarta-feira, 26, o corte de 384 árvores, incluindo 128 nativas, na Avenida Guilherme Dumont Villares, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo. Como mostrou o Estadão, a Prefeitura já havia autorizado a derrubada, desde que sejam cumpridas medidas compensatórias.

A empresa terá de plantar 221 mudas de espécies nativas, no terreno ou nos arredores do imóvel. O acordo de compensação ambiental firmado com a gestão municipal também prevê a transferência de aproximadamente R$ 2,5 milhões para o Fundo Especial do Meio Ambiente, usado para benfeitorias ambientais, principalmente em parques municipais.

A Tenda afirma que o empreendimento foi devidamente aprovado pelo Município. Já a Prefeitura informa que as medidas compensatórias estão de acordo com a Lei do Licenciamento Ambiental. "A gestão segue trabalhando pela preservação e equilíbrio ambiental, com responsabilidade e com análise técnica rigorosa", afirma.

Moradores reclamam do que chamam de "devastação" e apontam haver árvores centenárias, plantas frutíferas (como jabuticabeiras e amoreiras), macacos, saruês e tucanos no local.

Corte de centenas de árvores do bosque da Avenida Guilherme Dumont Villares com Avenida Francisco. Foto: tiago queiroz
Sagui no terreno da Tenda na Avenida Guilherme Dumont Villares, na zona sul de São Paulo, durante corte de 384 árvores no local nesta quarta-feira, 26 de novembro de 2025. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A autorização para o corte das árvores foi concedida em maio e dura até outubro de 2026. O local foi adquirido pela empreiteira para a construção de um condomínio com quatro torres de nove andares e 708 apartamentos de cerca de 30 m².

Corte de centenas de árvores do bosque da Avenida Guilherme Dumont Villares com Avenida Francisco. Foto: tiago queiroz
Trabalhador na obra da Tenda na Avenida Guilherme Dumont Villares, na zona sul de São Paulo. Foto: tiago queiroz

Na fachada, um banner anuncia o empreendimento Max Vila Sônia. Uma placa informa sobre o manejo arbóreo e a autorização da Prefeitura. A remoção inclui:

  • 128 árvores nativas
  • 226 exóticas
  • 5 espécies invasoras
  • 25 consideradas mortas

Moradora do bairro há três décadas, a vice-diretora escolar Adriana Fuciji, de 58 anos, é vizinha do terreno. "São árvores maravilhosas, frondosas, que abrigam uma fauna rica. E vão destruir isso", diz. "Não é apenas o nosso bairro, mas um santuário vital para a biodiversidade da nossa cidade e um legado ambiental que precisamos preservar para as futuras gerações", diz.

Também morador da região e integrante do coletivo Fórum Verde Permanente de Parques, Praças e Áreas Verdes, o sociólogo Francisco Eduardo Bodião, de 55 anos, critica o que avalia como "grandes empreendimentos rifando a vegetação na cidade".

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Terreno da Tenda na Avenida Guilherme Dumont Villares, na zona oeste de São Paulo, nesta quarta-feira, 26 de novembro de 2025. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Para ele, a legislação é insuficiente para proteger a mata nativa. "O plantio é sempre de mudas que precisam de tempo para vingar e a maioria delas se perde. Não tem plano de acompanhamento desses plantios que seja satisfatório. As mudas são abandonadas à própria sorte, sem manutenção adequada."

A Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente diz que todas as mudas são avaliadas por equipe técnica da pasta no momento do certificado de conclusão das obrigações ambientais. "Esse processo assegura a efetividade das compensações e o equilíbrio ambiental", afirma.

Empreendimento de Habitação de Interesse Social


Corte de centenas de árvores do bosque da Avenida Guilherme Dumont Villares com Avenida Francisco. Foto: tiago queiroz
A autorização para o corte das árvores foi concedida em maio de 2025. O local foi adquirido pela empreiteira para a construção de um condomínio com quatro torres de nove andares e 708 apartamentos de cerca de 30 m². Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O condomínio Max Vila Sônia conta com incentivos municipais por ser uma construção destinada à população de baixa renda, com renda familiar de até seis salários mínimos. Das 708 unidades, 567 serão Habitação de Interesse Social e 141 Habitação de Mercado Popular, para moradores com renda familiar até dez salários mínimos.

Prefeito se irrita com protesto de moradores


Em 6 de novembro, após a Prefeitura autorizar a construtora Tegra a cortar 118 árvores no Bosque dos Salesianos, na Lapa, na zona oeste, moradores da região realizaram protesto durante evento do prefeito Ricardo Nunes (MDB) de entrega de ônibus movidos a energia limpa.

Os manifestantes levaram cartazes e gritaram palavras de ordem como "salvem o bosque", "fora Nunes" e "vergonha". O acordo de compensação ambiental prevê que a Incorporadora Tegra plante 1.799 mudas e revitalize quatro praças na região.

Nunes se irritou com o protesto e chegou a chamar os manifestantes de "mentirosos" e "sem respeito", descrevendo o ato como "primitivo".

"Houve uma ação judicial e a decisão é de que a empresa tem o direito de fazer o seu empreendimento. Foram atendidos todos os critérios da legislação", afirmou Nunes sobre a autorização para manejo arbóreo no Bosque dos Salesianos.

O prefeito defendeu que só neste ano a gestão plantou 120 mil mudas na cidade. "Precisamos comemorar o que a gente plantou, a entrega de 200 caminhões a biometano e mil elétricos e a ampliação da nossa área de mata pública, porque aí é pública, ninguém vai poder mexer."

Após as críticas de Nunes ao protesto, os moradores divulgaram nota de repúdio. "O prefeito proferiu ofensas inadmissíveis. Aqui não estão "baderneiros" - estão cidadãos e contribuintes, que exigem respeito e responsabilidade ambiental de quem foi eleito para proteger o bem comum", diz o comunicado.

Estadão
https://www.estadao.com.br/sao-paulo/construtora-comeca-corte-de-384-arvores-para-construcao-de-predio-em-sp-veja-video/