1) O que é o caso?
O Jockey Club de São Paulo recebeu R$ 61,2 milhões em recursos de natureza pública destinados ao restauro de seu patrimônio tombado.
R$ 7 milhões desses recursos foram transferidos para uma conta pessoal de Benjamin Steinbruch, então presidente do clube.
O clube diz que foi um reembolso de dinheiro que ele teria adiantado.
2) Qual é a suspeita?
A suspeita central é simples: o dinheiro de natureza pública teria sido usado como caixa do clube e para pagar um dirigente.
A legislação diz que o dinheiro deve ser destinado para restauração.
A operação também levanta dúvidas porque Steinbruch estava dos dois lados do negócio: como presidente do Jockey e como empresário ligado à empresa que comprou o TDC que gerou os recursos.
3) O que é TDC -e por que esse dinheiro não pode ser usado livremente?
TDC (Transferência do Direito de Construir) é um instrumento do Plano Diretor. Funciona assim:
- imóveis tombados não podem ser ampliados;
- mas ganham um "crédito" de metros quadrados para vender a construtoras;
- a construtora usa esses metros extras em outro prédio;
- o dinheiro tem destino obrigatório: restauro e preservação do bem tombado.
Segundo a prefeitura, TDC não é receita livre, então não pode pagar:
- salários,
- fornecedores,
- dívidas,
- impostos,
- empréstimos de dirigentes.
4) Qual era a situação financeira do Jockey?
O clube enfrenta crise há mais de 20 anos.
Segundo a prefeitura, deve cerca de R$ 830 milhões em IPTU e ISS.
Tem dívidas com fornecedores, ações trabalhistas e bens penhorados.
Nos últimos anos, o TDC virou a principal fonte de dinheiro para manter o clube de pé.
Para a prefeitura, isso desvirtua a finalidade do instrumento.
5) O que aconteceu com os R$ 7 milhões?
Em 2019, uma empresa ligada à família Steinbruch, a Partifib, comprou um TDC por R$ 9 milhões.
Quatro dias depois, R$ 7 milhões saíram da conta do Jockey e chegaram à conta pessoal de Steinbruch via TED.
O Jockey diz que:
- Steinbruch adiantou recursos;
- o clube só devolveu o empréstimo;
- tudo foi feito conforme o termo de compromisso com a prefeitura.
A prefeitura diz que:
- isso fere o objetivo do TDC;
- o clube prestou contas de maneira incorreta;
- e há indícios de uso indevido de verba de natureza pública.
6) A prefeitura quer assumir o Jockey?
Nos bastidores, há duas linhas de ação sendo discutidas:
a) Intervenção temporária
Assumir a gestão para forçar um plano de restauro.
Impor nova governança e auditar contas.
b) Desapropriação
Transformar o espaço em um grande parque público.
Dívidas gigantescas do clube poderiam ser abatidas no cálculo da indenização.
O clube diz que isso seria um "confisco" e culpa a prefeitura por "asfixia".
7) Quem mais está envolvido?
- Construtoras
- Preocupadas porque:
- novos TDCs podem ser congelados;
- o caso pode gerar insegurança jurídica.
- Conselheiros do Jockey
Há divisões internas:
- um grupo defende Steinbruch;
- outro quer auditoria;
- outro teme intervenção;
- outro culpa a prefeitura.
- Órgãos de controle
DPH diz que o Jockey tratou o restauro com "descaso e deboche".
CGM investiga falsos comprovantes de restauro e mistura de notas de outros incentivos, como a Lei Rouanet.
- Câmara Municipal
Abriu uma CPI para investigar o uso dos recursos.
8) O que acontece agora?
O caso avança simultaneamente em três frentes:
Judicial: ações, bloqueios de bens, questionamentos sobre TDC, cobranças de dívidas.
Executivo: auditoria interna e de plano de desapropriação.
Legislativo: CPI que deve convocar dirigentes e técnicos do município.
9) Em uma frase, o que está em disputa?
O futuro de um dos patrimônios históricos mais importantes de São Paulo -e a legalidade de usar dinheiro de natureza pública carimbado para fins que a lei não contempla, incluindo uma transferência milionária para o então presidente do clube.
Uol
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2025/11/18/explicamos-por-que-r-7-mi-do-jockey-foram-parar-na-conta-de-steinbruch.htm





