Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara, em evento do Grupo Voto, em São Paulo - Foto: Divulgação/ Grupo Voto |
'Quem colar no bolsonarismo raiz não será presidente', afirma Maia

'Quem colar no bolsonarismo raiz não será presidente', afirma Maia

Lideranças da centro-direita colocam em xeque unidade para 2026 e apontam o desgaste eleitoral dos conservadores por pautas bolsonaristas


Por Cristiane Agostine - De São Paulo

Em encontro com empresários na quinta-feira (16), lideranças políticas de centro-direita afirmaram que o cenário eleitoral de hoje está mais favorável à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e avaliaram que o bolsonarismo tem prejudicado a estratégia dos conservadores para a disputa presidencial de 2026.

O ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia afirmou que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), cotado para a Presidência, foi "contaminado" pela agenda bolsonarista, com pautas como a anistia e a defesa do tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ao abraçar essas bandeiras, Tarcísio perdeu força, disse.

Maia avaliou ainda que o candidato da centro-direita que se vincular às pautas defendidas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro será derrotado na eleição presidencial. "Quem colar no bolsonarismo raiz não será presidente do Brasil como não foi em 2022."

Ao participar de encontro promovido pelo Grupo Voto, em São Paulo, o ex-presidente da Câmara disse que Lula reverteu a situação "muito ruim" que enfrentava, com baixa popularidade, depois de vincular os bolsonaristas ao tarifaço; defender a soberania e aprovar na Câmara a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. Ao mesmo tempo, Tarcísio se desgastou e perdeu espaço em pesquisas eleitorais. Segundo levantamento da Genial/Quaest divulgado na semana passada, Lula abriu 11 pontos de vantagem em relação ao governador, em cinco meses.

"Tarcísio, favorito, contaminado pela agenda maluca do bolsonarismo anti-Brasil, por um grupo que era nacionalista - uma incoerência em tudo o que está se fazendo em relação ao que se falou no passado - transforma o candidato de centro-direita no candidato a perder a eleição", disse Maia.

Hoje é a esquerda que diz que está com a 'mão na taça'"

- Baleia Rossi

A avaliação do ex-deputado sobre o desgaste da direita com o bolsonarismo e os possíveis prejuízos eleitorais vai na mesma linha do que empresários e lideranças do Centrão, como o presidente do PP, Ciro Nogueira, têm expressado.

Presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras, Maia disse que as pesquisas recentes mostram um cenário mais favorável a Lula, depois que o presidente "abraçou uma pauta populista" com vistas a 2026, com a defesa da isenção do IR, do fim da jornada de 6x1, a taxação dos mais ricos e a tarifa zero no transporte. "Lula é muito competente, tem muita experiência, se aproveitou desse movimento todo", afirmou.

Em seguida, Maia criticou o Parlamento por não apresentar uma agenda que sirva de contraponto ao presidente e de norte para a direita. "Vemos um dia a Câmara falando que quer votar a redução de gasto tributário, mas aí no dia seguinte vota o incentivo fiscal da lei do esporte permanente com apoio de todos os partidos, a PEC dos agentes comunitários, que dá um cacete na reforma previdenciária", disse. "Não consigo enxergar no Parlamento, que geralmente faz alguma oposição, que organiza a pauta da centro-direita - porque o Parlamento é da centro-direita, sem dúvida nenhuma - uma pauta que dê um caminho", afirmou.

O presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), reiterou a ideia de que o cenário eleitoral mudou desde o anúncio do tarifaço, em julho, e está mais favorável a Lula. Se em junho a centro-direita achava que a eleição presidencial "estava liquidada", disse Baleia, agora é a "esquerda que diz que está com a mão na taça".

Ao lado do dirigente do MDB no evento, a presidente nacional do Podemos, deputada Renata Abreu, reforçou que "depois do tarifaço mudou o sentimento da eleição".

O tarifaço, que elevou a tarifa cobrada pelos Estados Unidos a produtos brasileiros para 50%, foi negociado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) com o governo Trump como uma retaliação ao Brasil e ao Supremo Tribunal Federal (STF), por conta do julgamento de Bolsonaro. O ex-presidente foi condenado à prisão pelo STF, por tentativa de golpe de Estado. Bolsonaro é também alvo de inquérito, reaberto na quinta-feira pelo ministro Alexandre de Moraes, que apura a suposta interferência do ex-presidente na Polícia Federal (PF), quando ele ainda estava no cargo. Procurada, a defesa de Bolsonaro não comentou.

Antes mesmo da condenação, Bolsonaro já havia se tornado inelegível até 2030, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral. O ex-presidente ainda não disse quem defenderá para disputar a Presidência, mas Eduardo tem se colocado como candidato e atacado lideranças da centro-direita que apontam sua falta de viabilidade eleitoral.

Ainda não há consenso entre os conservadores sobre quem será o candidato. No encontro com empresários de quinta-feira, representantes da centro-direita colocaram em xeque a união do grupo em torno de um mesmo nome.

O presidente do MDB disse que essa unidade "vai depender muito do nome que for apresentado". Baleia Rossi afirmou que o partido conversa "tanto com o PL como com o PT", e evitou se comprometer com algum dos pré-candidatos já lançados. "Para aglutinar forças políticas para ter um só candidato ou o candidato mais viável, vai depender do nome escolhido", reforçou.

Ao falar sobre Tarcísio, Baleia citou o governador como candidato à reeleição em São Paulo e disse ter o compromisso de apoiá-lo no Estado.

Já o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, ressaltou Tarcísio como a "cereja do bolo da renovação política" brasileira, e disse que apesar de o PSD ter dois pré-candidatos presidenciais, o partido deve apoiar uma eventual candidatura de Tarcísio à Presidência, caso o governador desista da reeleição no Estado. (Colaborou Tiago Angelo, de Brasília)

Valor
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