Robert Redford - Foto: Fred R. Conrad/The New York Times |
Morre o ator Robert Redford, um dos maiores ícones de Hollywood, aos 89 anos

Morre o ator Robert Redford, um dos maiores ícones de Hollywood, aos 89 anos

Astro revolucionou o cinema independente americano ao criar o Festival de Sundance


Morreu nesta terça-feira, aos 89 anos, o ator e diretor americano Robert Redford. A informação é do The New York Times. De acordo com o jornal, o anúncio foi feito em comunicado, pela agente do ator Cindi Berger, da empresa de relações públicas Rogers & Cowan PMK. Ela disse que ele morreu em sua casa nas montanhas de Provo, no estado de Utah, durante o sono, mas não especificou a causa da morte.

Nascido em Santa Monica, na Califórnia, em 1936, Redford quase seguiu carreira no esporte. Aos 13 anos, recebeu uma medalha do então senador Richard Nixon por se destacar como atleta de beisebol. A talento lhe rendeu uma bolsa esportiva na Universidade de Colorado Boulder. A trajetória no esporte e na escola foi prejudicada pela falta de disciplina. Um ano após entrar na faculdade, foi expulso por notas ruins e mal comportamento. Com dinheiro acumulado a partir de inúmeros pequenos trabalhos, ele decidiu viajar pela Europa com o sonho de se tornar pintor.

Ao voltar para os EUA, opta por trocar a Califórnia por Nova York, onde começou a carreira de ator nos anos 1950, atuando em programas de TV e peças de teatro. Sua estreia no cinema aconteceu em 1960, no filme "Até os Fortes Vacilam", que também marcou a estreia de Jane Fonda. Ao longo da carreira, ele atuou em mais de 70 produções, sendo a última uma rápida participação na série "Dark Wings", numa cena em que joga xadrez com o escritor George R. R. Martin no início da terceira temporada.

Visto pelos estúdios de Hollywood como um sex symbol nos primeiros anos da carreira, o ator se tornou um dos preferidos de Hollywood entre anos 1960 e 1980. Como galã, destacou-se em "Descalços no Parque" com Fonda (1967), em "Nosso Amor de Ontem", com Barbra Streisand (1973) e "Entre dois amores", com Meryl Streep (1985). Outros grandes filmes de sua cinebiografia são "Butch Cassidy" (1969), "Três Dias do Condor" (1975) e "Todos os Homens do Presidente" (1976). "Golpe de mestre", de 1973, foi o filme que lhe rendeu a única indicação ao Oscar de melhor ator, prêmio perdido para Jack Lemmon, de "Sonhos do passado".

Apesar da fama inicial como símbolo romântico, Redford nunca se deixou levar pelo estrelato. O ator dedicou a vida ao cinema independente e ao ativismo ambiental e político. Discreto na vida pessoal, ele cultivava a rotina em seu rancho em Utah. Foi ali que se aproximou das causas ambientais, assumindo papel central em campanhas contra rodovias e usinas poluentes. Sempre rejeitou ser chamado de ativista, mas seu engajamento fez dele uma voz respeitada na defesa da natureza e no debate público americano. Seus últimos três trabalhos como diretor, "Leões e cordeiros" (2007), "Conspiração americana" (2010) e "Sem proteção" (2012), possuem pano de fundo político em suas tramas.

O astro também se aproveitou da fama gerada pelo sorriso de um milhão de dólares e pelos cabelos loiros atrapalhados para ser ouvido como artista. Ainda como ator, começou a se aproximar de roteiristas e diretores independentes se colocando ao lado deles como força criativa. No clássico "Todos os Homens do Presidente", além de atuar, ele colaborou com o roteiro e foi produtor executivo.

A consagração máxima de Hollywood veio somente em 1981, com o Oscar de melhor diretor pelo filme "Gente como a gente". Foi seu primeiro trabalho como diretor, e o longa, inclusive, ganhou o prêmio de melhor filme naquele ano. Outro filme que ele dirigiu e teve excelente desempenho na temporada de premiação foi "Quiz Show - A Verdade dos Bastidores" (1994), indicado a quatro Oscar, incluindo melhor filme e melhor diretor.

Em 1981, Robert Redford deu o pontapé no que é considerado o "seu maior impacto cultural". Ele fundou o Instituto Sundance, uma organização sem fins lucrativos com o objetivo de dar espaço a criadores do cinema independente. Em 1984, assumiu o controle de um festival claudicante em Utah e o batizou de Festival de Sundance, até hoje uma referência no surgimento de novas vozes que orbitam fora do esquema de Hollywood. Foi lá, por exemplo, que Steven Soderbergh lançou o célebre "Sexo, Mentiras e Videotape", em 1989. Outros cineastas como Quentin Tarantino, Darren Aronofsky, David O. Russell, Chloé Zhao e Ava DuVernay também tiveram suas obras badaladas no evento da cidade de Park City, no estado de Utah, onde Redford tinha um rancho e vivia, atualmente, recolhido.

O impacto de Redford e Sundance no cinema também cruzou as fronteiras dos Estados Unidos. Produções internacionais sempre tiveram espaço na programação do evento, além do apoio a roteiristas e realizadores através de ações do Instituto Sundance. Clássico de Walter Salles, "Central do Brasil" (1998) participou de laboratório de roteiro na entidade. Anos depois, Redford atuou como produtor executivo de "Diários de motocicleta" (2004), também de Salles.

- Robert Redford não só contribuiu com a sua arte como ator, mas também transformou o mundo através do Festival de Cinema de Sundance e do Instituto de Sundance - destaca o diretor brasileiro Fernando Grostein Andrade, que apresentou seu filme "Abe" (2019), no evento organizado pelo astro.

Em 2002, Robert Redford recebeu um Oscar honorário pelo trabalho como ator, diretor e incentivador do cinema independente. Na ocasião, ele recebeu a estatueta das mãos da amiga Barbra Streisand. "Ele é sempre interessante, sempre interessado. Ele é muito esperto, muito privado. É confiante, mas tímido. O trabalho de Robert Redford como ator, diretor ou produtor sempre o representaram como é de verdade: o intelectual, o artista, o caubói. Ele tem uma paixão por contar histórias que refletem a força e a vulnerabilidade do espírito americano. Seu impacto na indústria cinematográfica é imensurável", disse a atriz e cantora.

Ao longo de seis décadas de carreira, Redford atuou em mais de 80 produções. Os últimos anos, no entanto, foram menos ativos. Seu último crédito como ator foi em "Vingadores: Ultimato" (2019), blockbuster da Marvel que faturou US$ 2,7 bilhões nas bilheterias mundiais. No longa, o ator interpretou o secretário Alexander Pierce. Teve trabalhos mais recentes como produtor, no documentário "All Illusions Must Be Broken" (2024) e na série "Dark winds" (2022-2025).

Ao longo da vida, manteve relacionamentos notórios, incluindo o romance com a atriz brasileira Sonia Braga, um dos mais comentados da década de 1980. Os dois trabalharam juntos em "Rebelião em Milagro" (1988), segundo longa dirigido por Redford. Outro relacionamento significativo foi com a figurinista Kathy O'Rear.

Robert Redford deixa a esposa Bylle Szaggars-Redford, com quem estava casado desde 2009, duas filhas, Shauna e Amy, e sete netos. As filhas foram fruto do casamento com a produtora Lola Van Wagenen, entre 1958 e 1985. A relação rendeu ainda os filhos Scott e James. Scott morreu de forma trágica, com apenas dois meses de idade, em 1959. Já James faleceu de câncer aos 58 anos, em 2020.

O Globo
https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2025/09/16/morre-ator-robert-redford-um-dos-maiores-icones-de-hollywood-aos-89-anos.ghtml