O novo papa Leão 14 se aproximou da Igreja por causa dos pais Imagem: Alberto Pizzoli - 8.mai.2025/AFP |
Como comida 'raiz' de sua mãe fez o papa Leão 14 se aproximar da Igreja

Como comida 'raiz' de sua mãe fez o papa Leão 14 se aproximar da Igreja

O novo papa Leão 14 formou, em sua juventude, uma relação afetiva importante com a comida de sua mãe que o aproximou da Igreja. Apesar de nascido como Robert Prevost em Dolton, um subúrbio de Illinois (EUA) próximo a Chicago, sua família tem raízes em outro local histórico dos EUA: o estado da Louisiana.

"Millie", Robert e a cozinha


Mildred Martinez Prevost, ou "Millie", como era conhecida a mãe do papa Leão 14, teria sido uma mulher habilidosa e à frente de seu tempo, segundo a revista Vanity Fair espanhola. Ela nasceu em 1911 e se formou aos 34 anos com um bacharelado e um mestrado em biblioteconomia da Universidade Católica DePaul.

A família já tinha laços religiosos, já que duas de suas irmãs se tornaram freiras e seu marido Louis, pai do papa, era catequista e diretor de uma escola católica. Millie também era participante ativa de sua paróquia. Ele cantava no coral e liderava diversas pastorais, sendo responsável até por começar a biblioteca familiar da sua igreja local.

Mas foi dentro de casa e não na vida paroquiana que o futuro papa teve o contato mais próximo com religiosos que lhe serviram de inspiração. Isto porque Mildred era famosa entre os padres da comunidade por sua comida irresistível; eles aproveitavam toda ocasião e desculpa para comer na casa dos Prevost, ainda de acordo com a revista. O motivo? Millie era habilidosa no preparo dos pratos da culinária típica da Louisiana, uma das mais saborosas dos EUA.

O papa Leão 14 quando jovem
O papa Leão 14 quando jovem Imagem: Augustinian Province of Our Moth via Reuters

Por isso, não é de se estranhar que o futuro Leão 14 tenha crescido rodeado por membros da Igreja e tenha anunciado, apenas aos 14 anos, que queria entrar no seminário para se tornar padre.

O que será que cozinhava Millie Prevost?


A mãe do papa possuía uma rica herança cultural. Mildred tinha entre seus avós espanhóis que migraram para a América, mas seus pais -Joseph e Louise Baquié- são registrados como negros em um arquivo do censo de 1900 levantado pelo historiador Jari C. Honora, do museu e centro de pesquisa Historic New Orleans Collection, e divulgado à rede americana CNN.

Joseph, mais precisamente, trabalhava na produção de charutos e teria nascido no Haiti. O próprio irmão do papa, John Prevost, confirmou ao jornal The New York Times que a família tem raízes creole.

Seafood boil, prato de origem cajun e creole
Seafood boil, prato de origem cajun e creole Imagem: Divulgação/The Juicy Crab

Os creoles de Nova Orleans, uma das principais cidades da Louisiana e onde os Martinez viveram antes de se mudarem para os arredores de Chicago, têm como ancestrais as populações afro-caribenhas, espanholas e francesas que se miscigenaram e resultaram em uma comunidade de língua própria -a creole-, além de cultura e gastronomia vibrantes.

Justamente por causa da combinação única de influências, a cozinha creole seria considerada mais sofisticada nas técnicas do que a cajun. O site de gastronomia The Spruce Eats explica que os creoles seriam descendentes das populações europeias, indígenas e africanas originais que se fixaram na região e viviam em áreas urbanas, com acesso a mercados, instrumentos e troca de conhecimentos que aperfeiçoaram os pratos.

Pratos típicos da cozinha creole de Nova Orleans
Pratos típicos da cozinha creole de Nova Orleans Imagem: Victor Monsour of Monsour's Photography/Creative Commons

Já os cajun eram descendentes dos acadianos, colonos franceses que se fixaram primeiro no Canadá no século 17 e emigraram para a Louisiana no século 18 para trabalhar em zonas rurais, especialmente ao sul do estado. Por isso, eles apostavam em técnicas mais rústicas para os seus preparos. Tanto cajuns quanto creoles apostam no consumo de frutos do mar, molhos franceses como o roux, além de ingredientes como o quiabo, temperos picantes e pescados empanados, muito consumidos pelos africanos ou afro-caribenhos, segundo a Escola de Gastronomia Auguste Escoffier.

No entanto, a comida cajun costuma ser mais apimentada e abusar mais do porco e da lagosta, populares nas províncias marítimas - atualmente Nova Escócia, Novo Brunswick, Ilha do Príncipe Edward (Canadá), além de partes do Maine (EUA) - enquanto a comida creole recorre mais aos tomates, camarões, ostras e caranguejos em suas receitas.

Versão de gumbo com frutos do mar, outro prato popular das cozinhas cajun e creole
Versão de gumbo com frutos do mar, outro prato popular das cozinhas cajun e creole Imagem: Domínio Público

As porções creoles costumam ser mais generosas, ainda de acordo com o The Spruce Eats, que ainda nota que o roux -base para todos os molhos das duas cozinhas- tem diferenças históricas. Um roux creole é feito de manteiga e farinha, como na França, enquanto o roux cajun é preparado com banha ou óleo misturado à farinha. O motivo é por causa da dificuldade de encontrar laticínios em algumas áreas da antiga Acádia nos primórdios dos assentamentos.

Já o gumbo, um ensopado de legumes comum às duas culturas locais, é preparado seria mais denso graças à base de roux na casas cajun, enquanto entre as famílias creoles ele receberia mais tomate e se pareceria com uma sopa substanciosa. Como são influentes na mesma região, é possível que Millie fosse adepta, inclusive, das duas culinárias e as tenha levado na mala para Chicago, encantando Robert e os padres que participaram de sua formação religiosa.

Uol
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