Ulisses Marreiros, diretor-geral da Belmond no Brasil - Foto: Leo Martins / Agencia O Globo |
Copacabana Palace passou a ser um personagem de 'Vale Tudo' e ultrapassou nicho do luxo, diz executivo

Copacabana Palace passou a ser um personagem de 'Vale Tudo' e ultrapassou nicho do luxo, diz executivo

Diretor-geral da Belmond no Brasil conta que cliente pediu para ficar na suíte de Odete Roitman para ver final da vilã com amigos. Hotel chega a 2026 com alta nas reservas e como o mais importante do grupo


Por Bruno Rosa - Rio de Janeiro

Presente em 25 países, o grupo de hotéis de luxo Belmond tem o Brasil como pilar estratégico em seu crescimento global. O Copacabana Palace, que completou recentemente seu centenário e esteve na casa dos brasileiros ao longo do ano como residência oficial da personagem Odete Roitman, da novela "Vale Tudo", é hoje o empreendimento de maior faturamento entre as 44 propriedades da companhia, que desde 2019 pertence à Louis Vuitton Moët Hennessy (LVMH), o maior conglomerado de luxo do mundo.

Em entrevista ao GLOBO, Ulisses Marreiros, diretor-geral da Belmond no Brasil, antecipa detalhes do processo de reforma do anexo, que termina em 2026, e comemora o bom momento do turismo no Brasil. "A ocupação deste ano vai ser acima de 70%. Neste momento, o total de reservas confirmadas para 2026 é quase 25% maior em relação ao mesmo período do ano passado", revela o executivo português, que está desde 2008 no grupo.

Qual é a importância do Copacabana Palace para a Belmond?

O Grupo Belmond opera hotéis em 25 países. E o Copacabana Palace é o maior hotel da companhia e, por isso, tem um impacto grande nos resultados financeiros da companhia. Nos últimos três anos, o Copa é o hotel com maior faturamento e Ebitda (geração de caixa operacional), apesar de os hotéis no exterior terem um valor de diária maior. O espaço em Portofino, na Itália, o Splendido Mare, tem uma diária média de quase ? 4 mil (quase R$ 26 mil) em alta temporada. Aqui, a diária média é em torno de R$ 4,5 mil a R$ 4,9 mil.

Vamos fechar o ano perto dos R$ 5 mil. Uma das coisas que eu costumo dizer quando as pessoas começam a trabalhar aqui é que, além de fechar todo mês o negócio no azul, há a responsabilidade de manter o Copacabana Palace como patrimônio carioca. O Copacabana Palace é um hotel tombado pelas três esferas do patrimônio.

E como está o crescimento do hotel no Rio?

A ocupação deste ano vai ser acima de 70%. Este ano será melhor que o de 2024, que foi recorde. Encher o hotel é muito fácil. Encher o hotel com o preço certo é o mais difícil. Neste momento, o total de reservas confirmadas para 2026 é quase 25% maior em relação ao mesmo período do ano passado.

Então, em determinado momento, vai bater no teto, pois estamos com menos quartos do que tínhamos no início do ano passado. Desde abril, estamos funcionando com 140 quartos em vez de 239, já que o prédio anexo está em obras. Estamos bem entusiasmados com 2026. Sobre o evento (Todo Mundo no Rio), temos a certeza de que vai acontecer em 2026 e 2027. O hotel está todo reservado.

Quais serão as principais mudanças do novo prédio?

É o maior investimento em cem anos. Vamos reduzir o número de unidades de 96 para 68 e ter um novo restaurante e uma área de bem-estar, com academia e spa. E mais da metade deles terá vista para o mar e com varanda. Vamos trazer mais brasilidade para dentro do prédio, com mais pedras, madeiras e artistas brasileiros. Vai ficar pronto em novembro de 2026.

Além do Copacabana Palace, o grupo também está investindo no Hotel das Cataratas, em Foz do Iguaçu?

O Hotel das Cataratas é o único empreendimento hoteleiro dentro do Parque Nacional do Iguaçu. Toda a área de recepção passou recentemente por retrofit, bem como a piscina e o Bar Tarobá. Abrimos o Terraço Y. Lá, os hóspedes podem visitar as Cataratas em horários especiais. A gastronomia é um pilar primordial. Recentemente, inauguramos o restaurante Y.

Quais os planos de crescimento no Brasil?

A Belmond está muito focada em fazer um upgrade nos produtos que já tem. Depois, sempre existem oportunidades. Estamos bem atentos ao mercado. Queremos crescer onde fizer sentido. O nosso cliente vem para aqui, Cataratas, e onde é que ele vai a seguir? Pantanal, Amazônia, Paraty, Lençóis Maranhenses? Onde faz sentido para engrandecer ainda mais a experiência do cliente?

O Brasil vem batendo recorde de turistas estrangeiros. Há espaço para crescer mais?

Pela primeira vez, o Brasil está ultrapassando os 8 milhões de visitantes estrangeiros. (Chegou a 9 milhões na sexta-feira). E isso também tem impacto positivo aqui para nós. O Brasil está na moda. A (revista) Travel+Leisure, muito conhecida nos EUA para o mercado de turistas de luxo, colocou o Brasil como capa e elegeu-o destino do ano. Em 2014, Portugal saiu nessa publicação e teve um impacto enorme nos EUA. E esse impacto em um país continental como o Brasil será possivelmente maior.

O Rio vem atraindo novas marcas, como o Four Seasons e o Fairmont, que está ampliando. Como o senhor vê a concorrência?

É uma pena que a concorrência não tenha aparecido mais cedo. Temos um grupo de gerentes dos hotéis cinco estrelas e fazemos reuniões cujo interesse é trazer turistas para o Rio. E abanamos essa árvore para as pessoas virem para cá. E cada hotel tenta agarrar sua fruta. Elas vão agregar ao bolo, mais do que dividir, porque virão mais pessoas.

Mas o turista brasileiro também vai muito ao Copa?

Cerca de 40% dos clientes do Copacabana Palace são brasileiros. Quando olhamos o público internacional, embora a Argentina tenha peso muito grande no Rio, nosso maior público é o americano, seguido do inglês, argentino, italiano, francês e alemão.

Mas a segurança é uma preocupação?

Segurança é a primeira pergunta que me fazem. Tenho de dar segurança para as pessoas de que podem enviar os clientes para aqui. Há pessoas que falam que aqui no Copacabana Palace é só abrir as portas e já tem clientes. Mas investimos para estar presentes em feiras e eventos no mundo. Fomos a Toronto por conta da nova rota da Air Canada. Também estamos muito voltados para o mercado asiático, porque é o único que ainda não voltou aos níveis pré-pandemia.

O hotel tem atraído cada vez mais artistas internacionais e se tornado um ponto turístico. Como isso se reflete na estratégia da empresa?

A parte cultural ganhou força no final de 2021, quando reabrimos nosso teatro, que esteve fechado durante 27 anos. E estamos criando nossos próprios eventos, como o Copa Art Talks. Temos o Baile do Copa, que ano que vem terá como tema a brasilidade. Temos parceria com a boate Posh, de Florianópolis, e o Halloween do Copa, que são abertos ao público. Tem o baile do Jorge Benjor. Neste momento, já temos reservas de casamento para 2027. Os eventos sociais atraem muitas pessoas no fim de semana.

Recentemente, o grupo anunciou a adoção da escala 5x2. Foi difícil de implantar?

É uma pena que se comece a ver alguma politização nesse tema. A discussão da escala 6x1 e 5x2 aqui no Copa já ocorre há mais de três anos. A maior parte das pessoas de serviços não operacionais já faz a escala 5x2. E nem era justo para o restante fazer outra escala. Mas, sim, a carga horária é maior, pois passa a ser dividida em cinco dias.

Seria preciso ter mais pessoas para cobrir, mas não foi preciso, porque reduzimos o número de quartos com a reforma. Por isso, foi estratégico aderir à escala 5x2 neste momento. Há impacto, mas vai trazer mais qualidade de vida para as pessoas. A dificuldade era o timing certo para implementar. A escala só vai funcionar se nós fizermos funcionar, porque a produtividade tem que ser entregue também.

Este ano, o hotel esteve presente na novela Vale Tudo. Isso atrapalhou ou ajudou?

O Copacabana Palace foi mais que uma locação e passou a ser um personagem. E ultrapassou o nicho do luxo. As pessoas só queriam saber o que se passava com Odete Roitman. E, depois, quando houve o famoso episódio do atentado, muitos se perguntaram como isso seria possível, mas ninguém é revistado quando entra no hotel. Teve ainda um cliente que pediu especificamente para ficar na suíte que tinha o número da Odete Roitman, para ver o último episódio com os amigos.

O Globo
https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2025/12/21/copacabana-palace-passou-a-ser-um-personagem-de-vale-tudo-e-ultrapassou-nicho-do-luxo-diz-executivo.ghtml