Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central | Foto: José Cruz Agência Brasil |
Paciência de Lula com Galípolo se esgotou

Paciência de Lula com Galípolo se esgotou

Por: Tales Faria


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem dito a assessores que se esgotou a paciência dele com o fato de o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, não ter dado sinais, desde que assumiu o cargo, de "uma mudança de rumo" na taxa juros.

Galípolo foi puxado para a equipe de campanha e de transição do governo pelo próprio presidente da República. Ele havia construído uma relação de dez anos com o PT na elaboração de planos de governo. Mas não era considerado um petista, o que tornava mais fácil sua aceitação pelo mercado.

Como economista, era - e ainda é - tido como um heterodoxo moderado. Fama que se consolidou como secretário-executivo do ministro Fernando Haddad.

Já quando o nomearam para diretor do Banco Central, em julho de 2023, Lula e Haddad tinham em mente torná-lo presidente da instituição ao fim do mandato de Roberto Campos Neto, o que se efetivou em janeiro de 2025.

A expectativa de Lula e do ministro da Fazenda era de que, quando assumisse o comando do banco, Galípolo começaria a dar sinais de que as taxas de juros baixariam.

Essa expectativa foi alimentada desde que ele entrou no banco como diretor. Sua estreia no Comitê de Política Monetária (Copom) coincidiu com a primeira queda da Selic desde que o ciclo de alta da taxa básica fora iniciado, em março de 2021.

Galípolo até protagonizou um dos momentos mais tensos do Copom. Foi numa votação dividida pela redução da taxa básica de juros, a taxa Selic. Os diretores indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) votaram pela redução em 0,25 ponto percentual (de 10,75% para 10,50%). Venceram, enquanto Galípolo, derrotado, havia puxado, com os diretores nomeados por Lula, um corte mais forte, de 0,50%.

Mas, desde que assumiu a chefia do banco, o "menino de ouro" do presidente parece ter seguido em direção contrária. Sob seu comando, a Selic atingiu a taxa de 15% ao ano, o maior patamar desde 2006. Na reunião da última quarta-feira (05), o Planalto esperava um sinal de que haveria mudança de rumos. Nada disso.

Os diretores do BC não só mantiveram pela terceira vez seguida a taxa em 15%, como deram sinais de que qualquer mudança só deverá ocorrer em 2026. E não se sabe se a tempo de causar impacto nas eleições de outubro.

Até o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), conhecido por sua moderação, já começa a reclamar. Nesta quinta-feira (6) ele afirmou com todas as letras que o governo espera uma redução na taxa Selic a partir da próxima reunião do Copom.

"O grande problema é a taxa de juros muito elevada. Esperamos que na próxima reunião do Copom ela já comece a curva de redução. Ela retrai a atividade econômica, especialmente em bens duráveis e custo mais alto", declarou.

Gleisi Hoffmann, a ministra das Relações Institucionais que funciona como uma porta-voz de Lula para a articulação política, postou nas redes sociais:

"A decisão do Copom de manter pela terceira de vez a taxa Selic em 15% é prejudicial aos investimentos produtivos, ao acesso ao crédito, à geração de empregos e ao equilíbrio das contas públicas. É prejudicial ao Brasil. Nenhuma economia do mundo pode conviver com um juros reais de 10%. Nada justifica uma decisão tão descasada da realidade, dos indicadores econômicos, das necessidades do país."

São, na verdade, recados do presidente para Galípolo. No Planalto, diz-se que Lula está disposto até a encontrá-lo pessoalmente assim que voltar da COP30.

Falta saber se Galípolo está preparado para ouvir uma bronca. Afinal, já não é mais menino. Muito menos de ouro.

Correio da Manhã
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