O presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, conversam em cerimônia no Palácio do Planalto: crise do Pix teve repercussão negativa, aponta pesquisa - Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo/16-01-2025 |
Fragilidade no apoio de partidos vira entrave para formação de palanque do PT em São Paulo

Fragilidade no apoio de partidos vira entrave para formação de palanque do PT em São Paulo

Sigla avalia que candidatura de Haddad a governador, mesmo com chances de derrota, seria a melhor alternativa para impulsionar a campanha do petista em 2026


Por Lauriberto Pompeu e Jeniffer Gularte - Brasília

Com a popularidade em baixa e lidando com desgastes em sequência por conta de crises no governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta dificuldades em fechar acordos políticos que garantam um palanque competitivo na eleição do ano que vem em São Paulo, maior colégio eleitoral do país. Os entraves se dão em duas direções: a proximidade de partidos aliados, casos de PSD e MDB, com o governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), potencial concorrente do PT no pleito presidencial de 2026; e a indefinição sobre os nomes que vão concorrer no estado na tentativa de dar musculatura a Lula.

À frente de três ministérios, o PSD também está no barco de Tarcísio - o presidente da sigla, Gilberto Kassab, é secretário estadual de Governo e Relações Institucionais. Com divisões internas e até a aspiração de uma candidatura própria, seja com os governadores do Paraná, Ratinho Jr., ou do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, é improvável que a legenda esteja unida em torno do projeto petista em 2026.

Aliados resistem


No caso do MDB, também com três pastas na administração federal, há uma ala consolidada em torno de Lula, especialmente no Nordeste. Já em São Paulo, no entanto, a relação é mais estreita com a oposição.

- Acho que o Tarcísio será candidato à reeleição, mas, eventualmente, se for candidato a presidente, as probabilidades de o MDB estar junto são altíssimas - afirmou o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes.

O presidente do partido, Baleia Rossi, tenta ganhar tempo e evitar a discussão eleitoral em 2026. Em entrevistas, ele já disse que o MDB tem uma "dívida de gratidão" com Tarcísio.

- O foco é discutir um programa para governos. Após concluir essa fase é que vamos falar sobre nosso posicionamento. Em 2022, foi assim - disse, lembrando da candidatura à Presidência de Simone Tebet, que depois virou ministra do Planejamento de Lula.

Soma-se à fragilidade da base a difícil escolha de nomes para concorrerem ao governo e ao Senado. Petistas avaliam que o desempenho do hoje ministro Fernando Haddad (Fazenda) contra Tarcísio em 2022 foi importante para o resultado eleitoral de Lula no estado - Haddad foi derrotado, mas conseguiu levar a disputa para o segundo turno. Para o ano que vem, no entanto, as previsões são mais pessimistas. O governador é visto como favorito mesmo por petistas, o que afasta possíveis interessados em enfrentá-lo. Dirigentes do PT manifestam preocupação ainda com o fato de Lula não ter tratado dessas articulações. São Paulo tem 34 milhões de eleitores, quase um quarto do total do país.

O grupo de trabalho eleitoral do partido se reuniu na semana passada, e a constatação inicial é que Haddad seria o candidato ideal ao governo, ideia que o ministro, por ora, diz rejeitar. Em entrevista ao GLOBO em maio, ele disse que manifestou "para a direção do PT, com bastante antecedência, que não tinha a intenção de ser candidato em 2026". Petistas ponderam que ele não resistiria, no entanto, a uma convocação de Lula.

Ao Senado, são cotados o vice-presidente Geraldo Alckmin, o ministro do Empreendedorismo, Márcio França, ambos do PSB, e o próprio Haddad, em um cenário em que não concorra ao Palácio dos Bandeirantes. A estratégia passaria pela necessidade de ter nomes fortes nas duas disputas, fortalecendo a chapa de Lula. O cálculo entre PT e aliados é pragmático: mesmo que haja derrotas locais, é necessário evitar uma diferença de votos significativa a favor do nome que disputará a Presidência contra Lula, o que foi possível em 2022.

Sem terreno


Gilberto Kassab, presidente do PSD, e Tarcísio de Freitas - Foto: Reprodução/TwitterGilberto Kassab, presidente do PSD, e Tarcísio de Freitas - Foto: Reprodução/Twitter

Alckmin, porém, também vem dizendo a aliados não tem interesse em disputar a eleição em São Paulo. O partido do vice-presidente discorda da estratégia e deseja mantê-lo na chapa com Lula em 2026. A última vez que um candidato ligado a Lula ganhou a vaga no Senado em São Paulo foi em 2010. Na corrida para o governo, isso nunca aconteceu.

- Queremos Márcio (França) governador e Alckmin vice-presidente - disse a deputada Tabata Amaral, presidente PSB na capital paulista.

Em sentido contrário, a oposição se organiza e já avançou na montagem de palanques. Caso Tarcísio não dispute a reeleição no estado, já há alternativas, como Ricardo Nunes e o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, André do Prado (PL). No Senado, há negociações avançadas para que o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL) e o secretário de Segurança, Guilherme Derrite (PP), sejam os candidatos.

O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/06/15/fragilidade-no-apoio-de-partidos-vira-entrave-para-formacao-de-palanque-do-pt-em-sao-paulo.ghtml