Instalações da Usina Presidente Vargas, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda (RJ): empréstimo de R$ 1,13 bilhão do BNDES Foto: CSN/Divulgação |
CSN ganha alívio de caixa com financiamento de R$ 1,13 bi do BNDES para siderúrgica de Volta Redonda

CSN ganha alívio de caixa com financiamento de R$ 1,13 bi do BNDES para siderúrgica de Volta Redonda

Controlada da família Steinbruch, empresa enfrentou problemas de produção a partir de 2023 e teve fazer plano de modernização de quase R$ 8 bilhões


Por Ivo Ribeiro e Daniela Amorim (Broadcast)

Como parte do programa de modernização e reconstrução de sua usina siderúrgica Presidente Vargas, situada em Volta Redonda (RJ), a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), da família Steinbruch, recebeu financiamento de R$ 1,13 bilhão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O banco estatal de fomento informou a aprovação do crédito nesta segunda-feira, 29.

Os recursos, segundo o BNDES, vão ser utilizados no projeto de modernização de três unidades de produção da usina da CSN em Volta Redonda, que tem capacidade de produção de 5,8 milhões de tonelada de aço bruto por ano, nos tipos planos e longos. As linhas de produção passaram a ter problemas no início 2023, afetando a produção de aço bruto da siderúrgica.

Em razão disso, a CSN teve de recorrer à importação de placas (produto semiacabado) para poder atender a seus clientes em diversos setores - máquinas e equipamentos, embalagens, automotivo, linha branca, entre outros. A empresa anunciou, na época, um plano de investimento na usina de quase R$ 8 bilhões, até 2028.

Além de modernizar várias linhas produtivas, começou a reconstruir boa parte da usina que estava com equipamentos obsoletos. Procurada, a CSN não se manifestou sobre o empréstimo do BNDES.

Segundo comunicado do BNDES, o crédito aprovado à CSN prevê R$ 500 milhões, no âmbito do programa BNDES Mais Inovação, para aquisição de máquinas e equipamentos com características inovadoras e bens de informática, além de contratação de serviços tecnológicos para Internet das Coisas (IoT).

Os demais R$ 625,8 milhões, acrescenta o banco de fomento, são provenientes da linha Finem e são voltados à modernização das plantas de sinterização de minério de ferro na Usina Presidente Vargas, que foi instalada a partir de 1941 e entrou em operação em 1946. Parte dos recursos será desembolsada como reembolso de investimentos já feitos desde 2023, conforme previsto nas regras de contratação de crédito.

Alavancagem e venda de ativos

Financiamentos do BNDES a setores de fabricação de aço, celulose, mineração, petroquímica e outros de grande porte são comuns, porque são atividades de capital intensivo - requerem somas vultosas de investimento em novos projetos, em expansões ou em modernizações de fábricas.

Para a CSN, a aprovação tem grande relevância, pois a empresa não acessava há tempos as linhas tradicionais para indústria do banco. Segundo apurou o Estadão, houve suspensão de liberação devido a questionamentos sobre "problemas ambientais" da parte da usina de Volta Redonda, que afetaram aprovação de créditos, além de outras questões envolvendo a empresa e o banco. Isso parece superado, e a empresa passa a ter esse selo de credibilidade com o BNDES.

O financiamento, atualmente, com reembolso de parte já investida, é um alívio ao caixa, pois a empresa atravessa um ano de alavancagem alta, com uma dívida líquida (valor bruto menos o caixa) de R$ 37,5 bilhões, conforme dados do balanço do terceiro trimestre. Como mais de R$ 600 milhões são de devolução de valores já aportados pela CSN, o empréstimo tem impacto quase neutro na dívida líquida da companhia.

O nível de endividamento da empresa, em 30 de setembro, levou a agência de classificação de risco S&P Global Ratings, em novembro, a rebaixar seus ratings de 'brAA+' para 'brAA' e colocá-los em observação (CreditWatch negativo). Para a agência, a companhia não vem conseguindo reduzir seu nível de alavancagem e apontou como necessário, no curto prazo, por exemplo, venda de ativos de seu portfólio.

A CSN decidiu logo após a nota da S&P e anunciou que estava vendendo parte de suas ações na ferrovia MRS Logística para a sua controlada CSN Mineração (CMIN), que está listada na B3. Isso foi uma forma de reforçar seu caixa, uma vez que não podia - por se tratar de empresas diferentes, embora seja a controladora - acessar o caixa de mais de R$ 13 bilhões da mineradora de ferro.

Benjamin Steinbruch, principal acionista e CEO da CSN: companhia tem portfólio variado de ativos que gera alternativas de operações para reduzir alavancagem. Foto: Christina Rufatto
Benjamin Steinbruch, principal acionista e CEO da CSN: companhia tem portfólio variado de ativos que gera alternativas de operações para reduzir alavancagem Foto: Christina Rufatto

O negócio foi consumado na semana passada, com a CSN vendendo para a CMIN o equivalente a 11,2% de participação societária na companhia de ferrovia MRS, em duas tranches, por até R$ 3,35 bilhões. A CMIN, que já era acionista, e tem seu minério transportado pela ferrovia até o terminal de Itaguaí (RJ), passou a deter 29,91% do capital social (ações ON mais PN) da MRS. A CSN, sem perder direitos de votos no bloco de controle, ficou com 7,59%.

A operação de venda das ações ajudou a reforçar o caixa da CSN, mas o mercado, e a agência de rating S&P, aguardam que o principal acionista e CEO da companhia, Benjamin Steinbruch, anuncie em 2026 outros movimentos que reduzam a alavancagem da empresa para menos de três vezes a relação entre dívida líquida e o Ebitda (sigla em inglês de lucro antes de juro, impostos, depreciação e amortização).

O empresário disse em reuniões com analistas de bancos que a CSN tem outras alternativas para reduzir a alavancagem financeira. No médio prazo, para menos de três vezes na relação dívida Líquida sobre Ebitda. Argumenta que a empresa é dona de um portfólio variado de ativos, em vários setores. Segundo a S&P, o nível atual é preocupante, requer novos passos e prevê nova avaliação da siderúrgica em 90 dias.

Descarbonização

O financiamento atende ao objetivo do governo de investir na descarbonização da indústria, resultando na melhoria da qualidade do ar no entorno da fábrica em Volta Redonda, segundo José Luis Gordon, diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES. "Além disso, o projeto inclui o reaproveitamento de matéria-prima e fortalece a cadeia produtiva nacional de equipamentos", disse o executivo do banco, em nota do banco à imprensa.

O projeto, informa o comunicado, prevê a implantação de sistemas de despoeiramento e outras iniciativas voltadas à descarbonização, o que levará a uma redução das emissões nas três unidades de sinterização da usina. Os investimentos visam atender às obrigações estabelecidas no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) celebrado pela CSN com o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) para adequar os parâmetros previstos nas normas ambientais vigentes, explicou o banco de fomento.

Segundo Helena Guerra, Diretora de Sustentabilidade e Meio Ambiente da CSN, na nota, a empresa está avançando para uma etapa estratégica de modernização da usina, em Vota Redonda, com sistemas de despoeiramento e outras iniciativas voltadas à descarbonização dos seus processos de produção.

Estadão
https://www.estadao.com.br/economia/csn-ganha-alivio-de-caixa-com-financiamento-de-r-113-bi-do-bndes-para-siderurgica-de-volta-redonda/