Considerado o maior devedor de impostos do país, rótulo que rejeita, dono da Refit é reservado e acumula poucas aparições em público
Por Caio Sartori - Rio
Dono da Refit, alvo da megaoperação de ontem focada na sonegação de impostos no setor de combustíveis, Ricardo Magro tem muitas facetas, apesar das poucas fotos de qualidade disponíveis na internet. Poderoso no setor, no qual é conhecido pelas dívidas com estados e a União que somam R$ 26 bilhões, é também advogado, função que desempenhou no passado para políticos como Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara. No tempo de sobra, ataca de DJ, hobby exercido sob a alcunha de Orgam - Magro escrito de trás para frente.
Apesar de estar a todo momento associado a suspeitas no Brasil, como a operação de ontem e a Carbono Oculto, que se concentrou na lavagem de dinheiro do PCC, Magro mora bem longe de Manguinhos, o bairro do Rio em que fica o epicentro de seus negócios. Em Miami, nos Estados Unidos, um dos locais preferidos dos brasileiros abastados, ostenta bens valiosos a milhares de quilômetros das acusações de ser o maior sonegador de impostos do país, rótulo que sempre refutou.
Quem conviveu com Magro o classifica como um sujeito reservado, consciente de que os holofotes chamam problemas. Na classe política, contudo, sua entrada é notória - bem como os sucessivos perdões às dívidas que acumula com o poder público.
O último alívio chegou em outubro, quando a Assembleia Legislativa do Rio aprovou descontos de até 95% dos débitos e parcelamento em 180 meses. A oposição ao governador Cláudio Castro (PL) tentou tirar a Refit do escopo do texto, mas foi derrotada.
No Rio, a empresa de Magro é a segunda maior devedora, atrás apenas da Petrobras; em São Paulo, é a principal. O histórico lhe conferiu a pecha de "maior devedor contumaz do país", martelada ontem pela Receita. A investigação identificou ainda R$ 70 bilhões movimentados pelo grupo criminoso em um ano por meio de empresas, fundos e offshores a fim de maquiar lucros.
Interdição em setembro
Além do cerco criminal, intensificado com a nova operação, a Refit foi alvo recentemente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que interditou a refinaria em setembro ao elencar irregularidades. Um mês depois, os principais serviços foram retomados. Como mostrou o colunista do GLOBO Lauro Jardim, Magro se mexeu por meio de processos criminais e de reparação de danos contra diretores da agência, além de ter mobilizado políticos da "bancada da Refit" para conversas com a cúpula do órgão.A proximidade com a classe política também ficou evidenciada quando o mesmo colunista revelou que Magro - ou melhor, o DJ Orgam - preparou um set batizado de "esquenta despedida flor e rueda". Seria um trabalho musical para o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, e sua mulher.
Em 2016, Magro foi investigado e preso sob suspeita de fazer parte de um esquema de desvio de recursos dos fundos de pensão da Petrobras e dos Correios. Acabou absolvido.
O jornal Folha de S. Paulo teve acesso ao processo de separação do empresário com a ex-mulher. Ali, é possível dimensionar um pouco da riqueza de Magro. O casal morava em Miami em imóvel com mais de 9 mil metros quadrados e valor tributável de R$ 18,7 milhões. São mencionadas ainda outras residências em áreas nobres da Flórida, como a ilha Key Biscayne, e um barco de luxo.
Depois que deixou a casa disputada no processo, o dono da Refit alugou uma propriedade da lenda do basquete LeBron James. Para se locomover na região, usava um Maserati, carro que pode passar de R$ 1 milhão.
Folha de S.Paulo
https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2025/11/28/dj-inquilino-de-astro-da-nba-e-avesso-a-holofotes-saiba-quem-e-ricardo-magro-dono-da-refit-alvo-de-megaoperacao.ghtml





