Míssil atingiu barco e provocou incêndio enquanto comandantes observavam em tempo real com imagens de drone; após confirmar dois sobreviventes, Pete Hegseth ordenou novo disparo
Por O Globo - Rio de Janeiro
Uma operação dos Estados Unidos no Caribe ganhou contornos ainda mais controversos após revelações sobre a ordem que antecedeu um ataque mortal contra um barco suspeito de transportar drogas. Enquanto uma aeronave de vigilância americana acompanhava a embarcação, analistas que acompanhavam a ação de salas de comando acreditavam que os 11 tripulantes atuavam para o tráfico. De acordo com duas pessoas com conhecimento direto da operação, segundo o jornal The Washington Post, o então secretário de Defesa, Pete Hegseth, deu uma instrução verbal clara.
"A ordem era matar todo mundo", relatou uma delas.
Pouco depois, um míssil partiu da costa de Trinidad e Tobago, atingiu um barco e provocou um incêndio que tomou conta da embarcação. Durante alguns minutos, comandantes observaram a cena em tempo real, transmitida por um drone. Quando a fumaça baixou, dois sobreviventes estavam agarrados aos destroços ainda fumegantes.

Segundo fontes ouvidas pelo jornal americano, o comandante das Operações Especiais responsável pela ação de 2 de setembro - considerada o primeiro ataque da campanha lançada pelo governo Trump contra suspeitos de tráfico no Hemisfério Ocidental - ordenou um novo disparo para cumprir a determinação de Hegseth. Os dois homens morreram na água, atingidos pela segunda explosão.
A existência dessa ordem, que não havia sido revelada até agora, acrescenta um novo elemento às críticas que vêm sendo feitas à ofensiva militar americana. Especialistas em leis de guerra e alguns atuais e ex-integrantes do governo afirmaram ao Washington Post que a campanha, que já deixou mais de 80 mortos, é ilegal e pode expor diretamente os envolvidos a responsabilização futura.
Segundo especialistas em direito internacional e parte de autoridades americanas, os supostos traficantes atingidos nas últimas operações não representavam ameaça iminente aos Estados Unidos e tampouco estavam envolvidos em um "conflito armado" com o país, como sustenta o governo Trump. Para eles, a justificativa usada pela administração não encontra respaldo jurídico.
Como não existe uma guerra legítima entre as partes, matar qualquer um dos homens nos barcos 'equivale a assassinato', segundo Todd Huntley, ex-assessor jurídico das forças de Operações Especiais durante sete anos, no auge da campanha antiterror dos EUA.
Huntley reforça que, mesmo que houvesse um conflito declarado, ordenar a execução de tripulantes já incapacitados "seria, essencialmente, uma ordem para não fazer prisioneiros, o que constitui crime de guerra". Hoje, ele dirige o programa de direito de segurança nacional da Escola de Direito da Universidade Georgetown. A reportagem do Washington Post cita relatos de sete pessoas diretamente familiarizadas com o ataque de 2 de setembro e com a operação mais ampla.
Questionado, o principal porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, recusou comentar a ordem de Hegseth inclusive o envolvimento de forças de Operações Especiais. "Essa narrativa é completamente falsa", declarou. "As operações em curso para desmantelar o narcoterrorismo e proteger o país de drogas letais têm sido um retumbante sucesso."
Segundo quatro fontes ouvidas pelo jornal americano, o ataque foi conduzido pelo SEAL Team 6, o mais seletivo grupo de contrainsurgência da Marinha. O comando da missão, supervisionado a partir de Fort Bragg, na Carolina do Norte, estava nas mãos do almirante Frank "Mitch" Bradley, que afirmou que os sobreviventes ainda eram alvos legítimos, já que poderiam pedir socorro a outros traficantes e recuperar a carga.
O Gllobo
https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2025/11/28/secretario-de-defesa-dos-eua-disse-que-ordem-era-matar-todo-mundo-em-acao-no-caribe-diz-jornal.ghtml





