Em ato na Paulista, governador de São Paulo criticou Alexandre de Moraes e cobrou anistia ampla
Victoria Azevedo
Cézar Feitoza
José Marques
O decano do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Gilmar Mendes, afirmou nas redes sociais neste domingo (7) que "o que o Brasil realmente não aguenta mais são as sucessivas tentativas de golpe".
A fala é uma resposta ao discurso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em ato na avenida Paulista, que disse que "ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como [Alexandre de] Moraes".
"O que o Brasil realmente não aguenta mais são as sucessivas tentativas de golpe que, ao longo de sua história, ameaçaram a democracia e a liberdade do povo", diz o ministro na publicação.
"É fundamental que se reafirme: crimes contra o Estado Democrático de Direito são insuscetíveis de perdão! Cabe às instituições puni-los com rigor e garantir que jamais se repitam."
A manifestação de Gilmar foi publicada durante a noite. O ministro disse em seu texto que no Dia da Independência "é oportuno reiterar que a verdadeira liberdade não nasce de ataques às instituições, mas do seu fortalecimento".
"Não há no Brasil 'ditadura da toga', tampouco ministros agindo como tiranos. O STF tem cumprido seu papel de guardião da Constituição e do Estado de Direito, impedindo retrocessos e preservando as garantias fundamentais", afirmou.
Gilmar acrescentou que, se quisermos falar sobre os perigos do autoritarismo "basta recordar o passado recente de nosso país".
"Milhares de mortos em uma pandemia, vacinas deliberadamente negligenciadas por autoridades, ameaças ao sistema eleitoral e à separação de Poderes, acampamentos diante de quartéis pedindo intervenção militar, tentativa de golpe de Estado com violência e destruição do patrimônio público, além de planos de assassinato contra autoridades da República", disse o ministro.
Gilmar é integrante da Segunda Turma do Supremo, e não participa do julgamento da trama golpista, que tem Bolsonaro como réu. Mas há uma hipótese remota de que, a depender do resultado, um recurso possa ser levado para análise do plenário.
Outro ministro do Supremo afirmou a um interlocutor, sob reserva, que Tarcísio queima pontes com o tribunal ao fazer ataques diretos ao ministro Alexandre de Moraes.
A avaliação deste ministro é que a radicalização do discurso de Tarcísio tem foco político e em nada contribui para a situação do ex-presidente.
Também sob condição de anonimato, um terceiro ministro adotou uma linha diferente da de Gilmar, afirmando que, em sua avaliação, os poderes não estão ouvindo as ruas
Em ato na avenida Paulista, Tarcísio defendeu uma anistia "ampla e irrestrita", disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro deveria ser autorizado a ser candidato em 2026 e que pode ser condenado sem nenhuma prova.
Além disso, disse que o STF julga "um crime que não existiu", que o julgamento no Supremo não é justo e fez críticas ao ministro Alexandre de Moraes. As declarações ocorrem em meio ao julgamento de Bolsonaro na Corte.
"Não vamos aceitar a ditadura de um Poder sobre o outro. Chega", disse em recado ao Supremo. "Não vamos aceitar que nenhum ditador diga o que temos que fazer."
Ao ouvir que a multidão gritava "fora, Moraes", Tarcísio chamou o magistrado de ditador. "Por que é que vocês estão gritando isso? Talvez porque ninguém aguente mais. Ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes. Ninguém aguenta mais o que está acontecendo neste país", afirmou.
"Nós não vamos mais aceitar que nenhum ditador diga o que a gente tem que fazer", disse em outro momento.
Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2025/09/gilmar-rebate-tarcisio-e-diz-que-brasil-nao-aguenta-mais-e-tentativas-de-golpe.shtml