Lula com Rodrigo Pacheco nesta quinta-feira - Foto: Reprodução |
'Jogo Político': Lula, a 5ª visita a Minas Gerais e o 'ser ou não ser' da candidatura de Rodrigo Pacheco em 2026

'Jogo Político': Lula, a 5ª visita a Minas Gerais e o 'ser ou não ser' da candidatura de Rodrigo Pacheco em 2026

Newsletter semanal do jornalista Thiago Prado detalha a tentativa do petista de evitar um novo vexame no estado após duas derrotas contra Zema, em 2018 e 2022, e recomenda o programa 'Senhora sua mãe'


Por Thiago Prado na newsletter Jogo Político

Bom dia, boa tarde, boa noite, a depender da hora em que você abriu esse e-mail. Sou o editor de Política e Brasil do GLOBO, e nessa newsletter você encontra análises, bastidores e conteúdos relevantes do noticiário político.

A visita do presidente Lula ao Vale do Jequitinhonha hoje, a quinta em Minas Gerais em um espaço de quatro meses, expôs mais uma vez a importância dada ao estado que tradicionalmente espelha o resultado das eleições presidenciais. O petista quer evitar um novo vexame do PT na região após dois fracassos seguidos contra o governador Romeu Zema, pré-candidato do Novo ao Planalto: tanto em 2018 quanto em 2022, o ex-governador Fernando Pimentel, do PT, e o ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, do Republicanos, sequer conseguiram chegar ao segundo turno da disputa. Lula aposta no senador Rodrigo Pacheco (PSD) para a missão e já havia deixado a intenção clara em uma agenda em junho, quando chamou o aliado de 'futuro governador'.

Pacheco segue uma esfinge quando o assunto é a tal candidatura. De fato, seus movimentos públicos dos últimos tempos são de alguém que parece finalmente ter se animado a concorrer para governador. O senador vem focando em agendas no interior de Minas, e sua última entrevista para a rádio Itatiaia, na semana passada, mirou um aceno à esquerda para 2026: "O PT já demonstrou, por diversas vezes, apreço por uma possível candidatura minha. É um grande partido, que contribuiria muito para o projeto eleitoral de qualquer candidato", disse Pacheco à repórter Edilene Lopes.

Em conversas privadas, contudo, a resistência em se assumir candidato permanece. Pacheco diz a interlocutores de confiança que seu desejo maior ainda é o Supremo Tribunal Federal (STF) e uma hipotética vaga que poderia ser gerada caso Luís Roberto Barroso antecipasse a sua aposentadoria (prevista para 2033) ao deixar a presidência da corte, em setembro. A possibilidade da abertura de uma nova vaga no Supremo entrou no radar das autoridades em dois momentos do primeiro semestre. Em abril, em entrevista ao GLOBO, Barroso não descartou a aposentadoria: "Não tenho nenhum compromisso. Nem de sair nem de ficar", respondeu. No mês seguinte, uma reportagem de Rodrigo Rangel, no site 'PlatôBR', cogitou um destino para o ministro: "O Planalto já trabalha com um cenário novo: o de que o ministro aceitaria de bom grado uma embaixada, preferencialmente na Europa, assim que largar a toga", escreveu Rangel.

Pacheco, no entanto, passa longe de ser o nome mais forte para o STF em qualquer bolsa de apostas do mundo político. No PT, o cotado para uma próxima vaga é o Advogado-Geral da União, Jorge Messias. No Centrão, especula-se o desembargador Rogério Favreto, que deferiu a liminar, em 2018, determinando a soltura de Lula, à época preso na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba.

A resistência do ex-presidente do Senado a concorrer também se ampara nas pesquisas feitas em Minas. Em fevereiro, a Quaest colocou Pacheco com apenas 8% das intenções de votos para governador, muito atrás do senador Cleitinho, do Republicanos, com 33%. Levantamentos mais recentes feitos por institutos como Paraná Pesquisas, Futura e Veritá mantiveram os mesmos patamares de Pacheco na Quaest, mas projetaram números ainda maiores para Cleitinho. O vice-governador Matheus Simões, pré-candidato de Zema à sua própria sucessão, segue com pontuação baixa nas pesquisas, mas a tendência é que cresça conforme a eleição se aproxime devido aos elevados índices de aprovação popular da administração estadual.

Diante da indecisão sobre os rumos do PSD em Minas, o presidente do partido no estado, o deputado federal Cassio Soares, primo de Pacheco, começou a negociar uma aproximação da legenda com Simões e o Novo. Em entrevista para a revista 'Veja' no último fim de semana, Soares explicou porque pensa ser mais natural uma aproximação com a direita no estado: "O alinhamento que Kassab tem dado no Brasil é um pouco divergente do campo do governo Lula", justificou. Paralelo ao movimento do primo, o ex-presidente do Senado tem deixado correr solta a especulação de que poderia se filiar a partidos como o MDB e o União Brasil. Na interpretação da política mineira, Pacheco visa evitar o PSD local de cair no colo agora do grupo político de Zema, e tenta empurrar a sua decisão sobre concorrer ou não a governador para depois da saída de Barroso do Supremo.

Lula, por ora, não tem plano B em Minas. Ontem, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, deu a entender que também não gostaria de enfrentar uma eleição onde a direita é favorita: "Se eu tivesse de escolher, eu gostaria muito de servir ao meu Estado como senador. Mas reafirmo o meu compromisso de ser escalado pelo presidente Lula onde ele entender que serei mais útil". Hoje, no discurso ao lado de Lula, Silveira tentou jogar a batata quente da candidatura a governador para Pacheco novamente: "Com a sua coragem de ajudar a gente a retomar Minas Gerais, você vai ajudar a gente a manter o presidente Lula até 2030 na Presidência da República do Brasil".

O Globo
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/07/24/jogo-politico-lula-a-5a-visita-a-minas-gerais-e-o-ser-ou-nao-ser-da-candidatura-de-rodrigo-pacheco-em-2026.ghtml