O Departamento de Justiça dos EUA informou ao presidente que seu nome aparece várias vezes nos documentos relacionados ao condenado por tráfico sexual; Casa Branca chama de 'fake news'
WASHINGTON - Autoridades do Departamento de Justiça dos Estados Unidos informaram em maio ao presidente Donald Trump que seu nome aparecia várias vezes nos documentos relacionados ao condenado por tráfico sexual Jeffrey Epstein. A conversa foi primeiro noticiada pelo Wall Street Journal nesta quarta-feira, 23, e confirmada pelo The New York Times. Casa Branca diz que matéria é "fake news".
A publicação do WSJ ressaltou que ser mencionado nos registros não é um sinal automático de irregularidade. Trump entrou recentemente com um processo contra o jornal após a publicação de uma matéria que diz que ele havia presenteado Epstein no passado com o desenho de uma mulher nua.
O departamento analisou os arquivos no início deste ano e agora está sendo pressionado por apoiadores de Trump a publicar todos os documentos. No início deste mês, o departamento disse que a chamada "lista de clientes de Epstein" não existia.
Segundo o jornal, citando fontes anônimas dentro do governo americano, a procuradora-geral Pam Bondi e seu vice, Todd Blanche, informaram ao presidente, em uma reunião na Casa Branca, que seu nome constava nos arquivos de Epstein. O recado teria sido dado durante uma reunião de rotina para atualizar o presidente e não era o foco do encontro, diz a publicação.
Trump disse na semana passada que Bondi não havia dito que seu nome constava nos documentos.
Os documentos também trariam outros nomes notáveis de pessoas que teriam socializado com Epstein. As autoridades trataram o caso como "boatos não verificados sobre muitas pessoas", disseram as fontes.
Trump, amigo do financista até meados dos anos 2000, já apareceu em documentos relacionados à investigação. Comparecendo à Casa Branca em fevereiro, Bondi distribuiu uma série de pastas sobre os arquivos de Epstein, contendo os números de telefone da ex-esposa e da filha do presidente.
"Como parte de nosso briefing de rotina, informamos o presidente sobre as conclusões", escreveram Bondi e Blanche em um comunicado em resposta a perguntas sobre a conversa. "Nada nos arquivos justificava uma investigação mais aprofundada ou um processo judicial."
Steven Cheung, diretor de comunicações da Casa Branca, não respondeu a perguntas sobre o briefing, mas chamou qualquer sugestão de que Trump estivesse envolvido em irregularidades relacionadas a Epstein de "notícia falsa" e disse que Trump expulsou Epstein de seu clube, Mar-a-Lago, por "ser um pervertido".
A teoria sobre uma possível lista de Epstein foi alimentada pelo próprio Trump. Pam Bondi havia prometido publicar o que chamou de "um caminhão" de arquivos ligados ao caso, mas seu departamento voltou atrás este mês, alegando proteger as vítimas e bloquear a disseminação de pornografia infantil. A decisão provocou a ira da base apoiadora do republicano e o tema virou uma dor de cabeça para Trump, que passou a pressionar Bondi para publicar os arquivos.
No entanto, também nesta quarta, um juiz federal rejeitou o pedido do Departamento de Justiça para tornar públicas as transcrições do grande júri das investigações sobre Epstein na Flórida.
O departamento está processando pedidos separados para liberar transcrições de audiências do grande júri relacionadas a Epstein e sua associada e ex-namorada Ghislaine Maxwell em Manhattan, onde ambos foram acusados de tráfico sexual e outros crimes. Maxwell foi condenada em 2021 e cumpre pena de 20 anos na Flórida. Epstein faleceu enquanto aguardava julgamento.
O multimilionário com conexões políticas, que morreu em 2019, tem sido objeto de anos de elaboradas teorias da conspiração, muitas delas alimentadas por pessoas que agora ocupam cargos importantes no governo Trump, incluindo o diretor do FBI, Kash Patel, e o vice-diretor, Dan Bongino.
Epstein se declarou culpado em 2008 por acusações estaduais na Flórida de aliciar uma menor para prostituição. Ele foi indiciado por acusações federais de tráfico sexual em 2019 e morreu na prisão no final daquele ano enquanto aguardava julgamento. Sua morte foi considerada suicídio, embora alguns apoiadores proeminentes de Trump tenham questionado isso e alegado, sem provas, que ele havia sido morto para proteger amigos ricos e poderosos, muitos deles democratas, que também poderiam estar envolvidos em seu abuso de meninas.
O caso voltou a ser um problema para Trump depois que seu ex-aliado Elon Musk publicou no X, durante uma briga pública com o presidente, uma mensagem que associava Trump a Epstein. A pressão pela divulgação dos documentos, então, escalou até o seu ápice na semana passada.
Trump, ingressou com uma ação judicial de US$ 10 bilhões (cerca de R$ 55,8 bilhões) contra o Wall Street Journal e o empresário Rupert Murdoch, dono do jornal, após reportagem afirmar que o republicano enviou uma carta "sexualmente sugestiva".
No processo apresentado à Justiça Federal de Miami, Trump afirma que o jornal divulgou de forma "intencionalmente falsa e difamatória" a carta, que, segundo a publicação, trazia seu nome e foi incluída em um álbum comemorativo dos 50 anos de Epstein, em 2003. Os dois repórteres que assinam a matéria também foram incluídos como alvos do processo.
Ao insistir que é vítima de um ataque injusto da mídia, Trump reuniu alguns de seus apoiadores mais proeminentes ao seu redor. Mas as pesquisas mostram que a grande maioria do público acredita que o governo está ocultando fatos sobre o caso Epstein./Com W.Post e NYT
Estadão
https://www.estadao.com.br/internacional/trump-foi-informado-em-maio-que-seu-nome-esta-nos-arquivos-de-jeffrey-epstein-diz-wsj/