Novo diretor criativo da grife estreia sua coleção de moda masculina na sexta-feira
Por Jo Ellison e Adrienne Klasa - Financial Times, de Londres e Paris
A executiva-chefe (CEO) da Dior, Delphine Arnault, disse estar abrindo "um novo capítulo" na segunda maior marca da LVMH e enfatizou que a "qualidade é chave", em meio à desaceleração do setor de luxo e aos preparativos para o desfile de estreia do novo diretor criativo Jonathan Anderson.
Indicado ao cargo em maio, Anderson, nascido na Irlanda do Norte, se tornou o primeiro estilista desde o fundador da marca, Christian Dior, a ficar responsável tanto pela coleção masculina quanto pela feminina.
Ele assumiu o controle criativo de uma marca com receitas estimadas em ? 9,5 bilhões em um momento de declínio na demanda do mercado de luxo, em especial na Ásia.
A escolha de Anderson, de 40 anos, é a maior aposta de Delphine - filha mais velha do CEO da LVMH, Bernard Arnault. Ela assumiu o leme da marca em 2023, substituindo Pietro Baccari, que foi para a Louis Vuitton.
Anderson, que nasceu em Magherafelt durante os conflitos na Irlanda do Norte, dará o pontapé inicial da nova era da Dior com um desfile de moda masculina nesta sexta-feira (27).
"A Dior é uma marca fascinante", disse Delphine ao "Financial Times" de seu escritório em Paris. "Trabalhei na Dior de 2001 a 2013, então é a marca que eu conheço. O crescimento foi espetacular, mas acho que meu papel como CEO é saber quando é hora de mudar. E agora é um novo capítulo."
"Estou interessada em ver o que vai surgir [...] de uma maneira que é muito elevada, muito qualitativa", disse Arnault sobre suas expectativas para os novos desenhos de Anderson. "Os próximos cinco anos serão de dedicação à qualidade dos materiais e da fabricação. A qualidade é fundamental".
Antes da atual desaceleração, a Dior era uma das estrelas do setor do luxo. As receitas quadruplicaram para ? 9,5 bilhões entre 2017 e 2023, segundo o HSBC, impulsionadas por aumentos de preços.
O comando de Delphine Arnault até agora, entretanto, coincidiu com uma forte desaceleração no mercado de luxo, em particular na China, e com uma resistência dos consumidores à inflação de preços. A confiança já frágil dos consumidores poderia ser ainda mais impactada pela escalada dos conflitos no Oriente Médio.
Um escândalo envolvendo práticas trabalhistas em subcontratados na Itália - a Dior chegou a acordo para encerrar uma investigação em maio "sem o estabelecimento de qualquer infração" - abalou a imagem da marca.
"O foco [para Delphine] está em revigorar o crescimento das vendas após um período de vendas explosivas", disse Zuzanna Pusz, analista do UBS. "Mas também se concentrando em restabelecer a relação de custo-benefício aos olhos do consumidor, especialmente nos artigos de couro."
Em abril, a diretora de finanças da LVMH, Cécile Cabanis, disse a analistas que o desempenho orgânico das vendas da Dior no primeiro trimestre ficou "ligeiramente abaixo" da queda de 5% observada na divisão de moda e artigos de couro da holding.
A indicação de Anderson faz parte da tentativa da Dior de encontrar um novo impulso criativo, depois de nove anos sob o comando da estilista Maria Grazia Chiuri.
Anderson, ex-diretor criativo da Loewe, deixou a marca espanhola em 2024 com um catálogo de sucessos ligados a seu nome. Durante os 11 anos com Anderson, a receita da Loewe cresceu de cerca de ? 230 milhões para entre ? 1,5 bilhão e ? 2 bilhões, segundo o analista Luca Solca, da Bernstein.
Na Dior, no entanto, Anderson precisará supervisionar uma operação criativa muito maior - ainda mais em seu papel duplo. Delphine não espera que o novo chefe criativo da marca tenha um impacto imediato nas vendas. "Estou muito animada com o que vem por aí, mas acho que leva algumas temporadas para compreender a visão de um estilista", disse a CEO, acrescentando que a escolha de Anderson reflete um "pensamento de longo prazo".
A indicação de Anderson coincide com uma série de mudanças executivas na Dior, entre as quais a nomeação como vice-presidente executivo de Pierre-Emmanuel Angeloglou, que foi executivo da Louis Vuitton.
Após o escândalo com subcontratados na Itália, a Dior criou uma nova divisão industrial para produzir mais designs de forma interna, supervisionada por Giorgio Striano. Nicolas Carré, outro ex-executivo da Louis Vuitton, juntou-se à Dior como diretor industrial para artigos de couro, calçados e joias de moda.
"É uma questão de encontrar os melhores talentos e fazê-los trabalhar juntos", disse Delphine, que trabalhou com muitos da equipe em seu cargo anterior na Vuitton, de 2013 a 2022. "Acho que precisamos ter as melhores equipes em termos de criativos [...], mas também em termos de gestão da empresa."
A Dior planeja abrir uma nova loja-conceito em Manhattan em julho e outra na Rodeo Drive, em Los Angeles, em outubro. Mas as turbulências nos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump enfraqueceram as esperanças de que os compradores americanos possam vir a liderar uma recuperação do setor de luxo em 2025.
Anderson, que também é dono e diretor criativo da grife JW Anderson, agora apresentará até 18 coleções por ano. Mesmo assim, Delphine não parece estar assustada com as pressões adicionais sobre o estilista: "Ele tem 40 anos, acho que é o designer mais talentoso de sua geração. Acho que ele pode fazer muitas coisas incríveis." (Tradução de Sabino Ahumada)
Valor
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2025/06/25/ceo-da-dior-tenta-abrir-um-novo-capitulo.ghtml