Imagem aérea do Jockey Club de São Paulo - Danilo Verpa - 26.jun.23/Folhapress |
Folha de S.Paulo: Um parque no hipódromo

Folha de S.Paulo: Um parque no hipódromo

Cabe debater se Jockey Club de SP, em embate com prefeitura, pode virar área de lazer; região carece de espaços públicos

Um dos símbolos da elite paulistana no século 20, o Jockey Club de São Paulo já foi palco de bailes e eventos de gala e até hoje é referência no turfe nacional, mas há anos convive com o desinteresse do público por corridas de cavalo, ameaças de desapropriação e cobrança de dívidas que, segundo a prefeitura, ultrapassam os R$ 860 milhões.

Instalado em uma área de 619 mil m² (ou quase 87 campos de futebol) na Cidade Jardim, um dos bairros mais valorizados da capital paulista, o hipódromo é uma entidade associativa privada. A inadimplência aventada pela gestão Ricardo Nunes (MDB), sobretudo com IPTU e também ISS, teria motivado a prefeitura a tomar o terreno para fins coletivos.

Nunes tem a intenção de criar um parque no local, além de um centro de equinoterapia. Mas o páreo, neste caso, é duríssimo.

A administração diz que move quase 500 ações judiciais para cobrar as dívidas e, numa ofensiva conjunta com a Câmara Municipal, chegou a sancionar uma lei que proíbe corridas de cavalos com apostas na cidade -suspensa por liminar e declarada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça. O objetivo final, por óbvio, era sufocar a atividade-fim do clube.

Um projeto no Legislativo prevê incorporar o Jockey ao patrimônio do município. Na revisão do Plano Diretor, a Câmara já havia aprovado a inclusão do imóvel entre os 186 parques propostos para São Paulo, o que facilita declará-lo de utilidade pública.

Contudo o hipódromo refuta o passivo, que estaria superestimado, e também cobra R$ 340 milhões pela transferência ao poder público, em 2011, de um outro terreno em bairro próximo.

O imbróglio vai além. A Procuradoria-Geral do Município, órgão sob o comando da prefeitura, avaliou a área em R$ 95 milhões. Sócios, no entanto, afirmam que o cálculo é ínfimo diante do valor venal (R$ 1,1 bilhão).

O Jockey diz ainda que a desapropriação serve a "interesses escusos" -uma referência à possível especulação imobiliária, já que o mercado se beneficiaria com a criação de um parque. A diretoria do clube propõe uma parceria público-privada para criar o espaço, mas preservando a área do turfe e outras dependências.

Discrepâncias à parte, o fato é que os paulistanos e sua cidade anseiam por oásis verdes, seja para lazer, seja para amenizar os efeitos da mudança climática.

A cobertura vegetal em São Paulo é extremamente desigual entre seus distritos: 46 dos 96 têm menos de 20%, o que cria ilhas de calor, afeta a qualidade do ar e aumenta o risco de enchentes e deslizamentos de terra.

A região do Jockey é carente de espaços de convivência e enfrenta certa degradação no entorno; uma solução acordada entre as partes poderia aproveitar melhor uma área hoje subutilizada.

Se parece ilusão crer que novos parques na metrópole chegarão a galope, que ao menos haja avanços no entendimento, tendo como norte principal a qualidade de vida dos paulistanos.

Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/06/um-parque-no-hipodromo.shtml