Rogério Werneck
Economista, doutor pela Universidade Harvard e professor da PUC-Rio, Rogério Werneck escreve quinzenalmente
O que têm a dizer estrategistas políticos, marqueteiros e analistas de intenção de voto
Entre janeiro e abril, O GLOBO publicou na sua newsletter, Jogo Político, entrevistas semanais sobre as eleições de outubro de 2026 com estrategistas políticos e donos de institutos de pesquisa que ocupam posições de destaque no "quem é quem" da área. Foram ao todo 12 entrevistas, de fácil acesso na internet, todas bem conduzidas por Thiago Prado, editor de Política e Brasil do jornal.
Em conjunto, oferecem um leque valioso de perspectivas variadas e bem informadas das eleições, em grande medida centradas na disputa presidencial.
Por falta de espaço, vou me ater aqui a comentários esparsos sobre o que mais me chamou a atenção nas entrevistas. Há quem esteja convencido de que Lula está fadado a ser reeleito. E quem acredita que ele acabará derrotado. Maurício Moura acha que mesmo que haja 300 candidatos de direita, quem chegar ao segundo turno largará com 47%. E que será inevitável que o segundo turno seja sobre Lula.
Felipe Nunes também vislumbra uma eleição acirrada, que será vencida por quem "tiver menor rejeição em um grupo de pessoas específico: aqueles que votaram no Lula em 2022 e estão descontentes com o governo. São os liberais sociais, pessoas que antes votavam no PSDB e foram com o PT apenas naquele ano.
Estamos falando de apenas 10% do eleitorado em disputa, nada mais do que isso". Esclarece ainda que "o jogo estará nos chamados swing voters de quatro lugares: eleitores das cidades de São Paulo, Salvador e Rio, e do estado de Minas Gerais. Basicamente, aí estão os tais 10%."
"Faça o que fizer, o PT vai perder entre os evangélicos. Esse público não está em disputa." É o que também assevera Felipe Nunes. Para os candidatos de direita, contudo, a disputa pelo controle da Frente Evangélica, da qual participam 219 deputados e 26 senadores, será absolutamente crucial, como argui Renato Pereira, que aproveita para apontar um fato grave.
Até hoje, o IBGE não divulgou dados do Censo de 2022 sobre composição da população por religião. Os últimos dados confiáveis sobre a proporção de evangélicos no país são do Censo de 2010. Que explicação terá o IBGE para isso?
Dados atualizados sobre a proporção de evangélicos tornaram-se fundamentais para o desenho de amostras corretamente estratificadas em pesquisas de intenção de voto que evitem distorções grosseiras em seus resultados.
Para Pablo Nobel, o ministro do STF Flávio Dino seria o melhor nome da esquerda para o pós-Lula, ainda que lhe pareça impossível convencê-lo a abandonar o Supremo para se candidatar. Em contraste com Chico Mendez, que afirma que a guinada de Lula deveria ter sido para o centro, João Santana acha que teria de ser mesmo para a esquerda.
Mas João Santana externa preocupações com as dificuldades que o presidente vem enfrentando. "No caso de lideranças já testadas, como o Lula, as crises se aprofundam quando reforçam uma sensação de déjà vu, junto com cargas de monotonia e de sentimento de beco sem saída.
Este é o terrível labirinto das insatisfações coletivas. Quando se entra nele, um governo deixa de viver apenas uma crise e passa a viver uma tragédia de imagem".
"As crises de imagem são profundas quando atacam, simultaneamente, os sentimentos de confiança, esperança, admiração e de expectativas. Ainda é cedo para saber se é isto que está ocorrendo com Lula, mas há indícios apontando nesta direção."
Renato Meirelles vê a direita cometendo os mesmo erros da esquerda em 2018, com Bolsonaro, inelegível, determinado a registrar sua candidatura. "Por vaidade, Bolsonaro vai manter a própria candidatura até o último segundo. Depois, a tendência é apontar o dedo para alguém da própria família", afirma Marcos Carvalho.
Marcelo Faulhaber pondera que Eduardo e Michelle Bolsonaro poderiam até ir bem no primeiro turno (melhor que os governadores) mas não conseguiriam atrair o eleitor pendular no segundo turno, tamanha é a resistência ao sobrenome. É o que leva Paulo Vasconcelos a vaticinar que "o bolsonarismo vai precisar do Tarcísio, ele precisará ser candidato".
Estadão
https://www.estadao.com.br/economia/rogerio-werneck/jogo-disputa-presidencial/